Estreou no cinema como atriz principal e actuou sem hesitações com nomes já estabelecidos da sétima arte e actualmente mostra que tem algo a dizer na realização, os prémios que já recebeu são prova disso.
Gigliola Zacara é uma artista que procura ser perfeccionista, tem uma agenda lotada, mas sabe definir prioridades, por estar consciente que é impossível fazer tudo em simultâneo. Nem sempre foi assim, aprendeu com o tempo, as experiências, que obteve ao longo dos seus cerca de 30 anos de carreira.
Sua inclinação pelas artes evidenciou-se na infância, aos quatro e cinco anos de idade, já era notória a sua paixão pela dança. Passava os seus tempos livres em rodas de dança (Xitxuqueta) no seu bairro. Começa sua carreira aos doze anos de idade, quando ingressa à Escola Nacional de Dança. Hoje, contam-se 27 anos de sua longa estrada.
Através da dança, viu-se envolvida em outras vertentes artísticas, desde o teatro, música, literatura, artes plásticas e instalações multidisciplinares.
“A minha segunda arte de contacto, depois de dança, foi a representação para cinema e mais tarde representação para o teatro”, esclarece.
Actualmente, apesar de trabalhar com as outras artes, encontra-se mais engajada em quatro vertentes, nomeadamente: cinema, teatro, dança e a literatura.
Jardim de Outro homem Lançou-me como actriz
Para Gigliola, todos os trabalhos por si realizados são marcantes, “pese embora uns mais marcantes que os outros, pelos seus impactos ou mesmo pelos resultados que eles trouxeram a curto ou longo prazo”, explica.
Numa das edições da Semana da Francofonia, no Centro Cultural Franco- Moçambicano, participou de um concurso de dança.
“Na altura ainda estava no 5º ou 6º ano da Escola Nacional de Dança. Fiz o meu máximo e venci. Foi o primeiro prémio que recebi na vida”, narra, acrescentando que o galardão elevou sua auto-estima como bailarina e fez-lhe acreditar que podia ir muito longe com a sua arte.
Com esta motivação, sem muita experiência, mas com atitude e vontade de aprender, chegou a oportunidade para se experimentar na sétima arte. Gigliola encarou as câmeras e viveu o papel principal no filme “Jardim de Outro homem”, de Sol de Carvalho.
Contracenou com Ana Magaia, Evaristo Abreu, Joanett Rombe e um leque de actores com créditos já firmados. Sua actuação foi intensa e abriu-lhe portas para o mundo.
“Não consigo esquecer a minha aparição no cinema”, conta detalhando que o elenco e o realizador acreditaram em seu potencial, o que a fez não hesitar.
Actualmente, decidiu conciliar a representação e a realização, actuando e digerindo filmes. Suas primeiras produções foram os filmes “Nkwama”, de 2020, e “Silêncio”, de 2021, que atraíram premiações a nível nacional e internacional.
“Penso que isso é muito gratificante para o meu crescimento como realizadora, me faz ter uma responsabilidade ainda maior ao nível de exigência para os meus futuros trabalhos”.
Os anos de actriz ajudam a realizadora Gigliola a encarar o “set” de filmagem com outros olhos. Quando actua ela tem um posicionamento, sua preocupação é viver as personagens e transpirar cada emoção que elas sentem. Atrás das câmeras, seu foco é a técnica, o casamento dos elementos cinematográficos para a composição de uma obra com expressão. “E é interessante fazer este cruzamento das duas posições”, explica.
O teatro é outra das paixões da nossa personagem principal, que já fez parte de muitas peças, algumas a nível nacional e outras colaborações internacionais. No entanto, é marcante a sua participação em “Moçambique e os Dilemas de Shakespeare”, peça em que trabalhou com Thiago Justino, um actor e encenador luso-brasileiro.
O encenador colocou à Gigliola vários desafios que ainda não tinha experimentado. Foi através destes testes que descobriu coisas novas em si e foi vendo as várias possibilidades que poderia explorar como actriz.
Por estar a produzir curtas-metragens e ao mesmo tempo fazer teatro, está a ser uma experiência única para Gigliola. “É gratificante poder conciliar todas as minhas habilidades, as minhas experiências, me desafiar a novos aprendizados. Isso é que é o melhor de tudo: beber mais e mais, aprender algo novo diariamente”.
Sonhos são metas
Uma das maiores metas que Gigliola almeja alcançar é a realização de um longa-metragem que represente a si e a todos os moçambicanos. “Espero que com esse filme consiga trazer prémios ao país, mais reconhecimentos pelo trabalho que eu venho fazendo com a minha equipa, que me suporta e torna tudo possível”.
Metas à parte, por agora o foco da realizadora é melhorar a qualidade de seus futuros filmes, a todos os níveis, e faze-los chegar às várias plataformas nacionais e internacionais. E quanto aos filmes que já os tem em mão, quer, igualmente, colocá-los em mais salas de cinema e todos canais digitais que impulsionem a sétima arte para que o grande público tenha acesso.
Os filmes de Zacara têm um cunho social, que é de interesse para as às comunidades. “Meu interesse é contar minhas histórias e da sociedade através dos filmes”, diz, evidencia o papel da sétima arte no impulso de mudanças.
Empreender nas artes: difícil, mas não impossível
Apesar de ser difícil, Gigliola acredita que vale a pena ser empreendedor na área das artes, pois “quando dedicamos tempo suficiente para isso e temos determinação para enfrentar todos os desafios, alcançamos o sucesso do nosso investimento”, explica.
Para a artista, a perseverança é a chave para quem queira empreender nas artes. Para além disso, vê a criatividade, como ferramenta útil para, cada vez que surgir uma dificuldade, a pessoa ter capacidade de se reinventar.
A sorte, para si, varia de actividade para actividade e de pessoa para pessoa. Mas ainda assim, pensa que seja necessário que as pessoas sigam o curso normal das águas, respeitem às escadas e o crescimento de seus negócios artísticos, “e quando trabalhamos duro, com certeza que chegamos lá”, afirma.