Autora de Sambizanga e Monangambééé, figura central dos cinemas africanos da segunda metade do século XX, é homenageada na instituição parisiense com um ciclo retrospectivo.
A obra da franco-guadalupenha Sarah Maldoror (1929-2020), nome central do cinema africano anticolonial e pós-colonial, é a partir desta quinta-feira alvo de retrospectiva no Centro Pompidou, em Paris.
Enquadrada no âmbito de uma exposição sobre as relações entre a arte e os movimentos anticoloniais na capital francesa, e realizada com a colaboração dos herdeiros da cineasta, a retrospectiva tem lugar da quinta até segunda-feira.
A abertura faz-se com a estreia mundial da versão restaurada do seu primeiro filme, a curta-metragem Monangambééé (1969), inspirada num conto de Luandino Vieira mas rodada na Argélia, numa sessão apresentada por Annouchka de Andrade e Henda Ducados, filhas da realizadora, e pela historiadora Elvan Zabunyan.
Serão, ao todo, dez sessões que possibilitarão a visão em sala de duas dezenas de títulos, entre curtas e longas-metragens, de uma obra intimamente ligada à África de expressão portuguesa no período conturbado dos anos 1960 e 1970, ou não tivesse Sarah Maldoror sido companheira do intelectual e político angolano Mário Pinto de Andrade (1928-1990).
O Centro Pompidou exibirá os títulos mais emblemáticos da realizadora e encenadora – casos da longa-metragem de 1972 Sambizanga, rodada em Angola também ela a partir de Luandino Vieira e um dos títulos centrais da história do cinema africano, ou da “Trilogia do Carnaval”, composta por três curtas-metragens realizadas entre 1979 e 1980 na Ilha do Fogo, Guiné-Bissau e São Vicente.
Serão também exibidos documentários de curta-metragem que a cineasta dedicou ao longo da sua carreira a figuras artísticas – a artista colombiana Ana Mercedes Hoyos, o poeta martinicano Aimé Césaire, o político e poeta guianês Léon Damas, o poeta francês Louis Aragon ou o pintor russo Vlady Rusakov
— e evocar-se-ão trabalhos que Sarah Maldoror nunca conseguiu concretizar. É o caso de Les
Révoltés du Matouba, projecto que nunca passou do guião – alguns excertos serão lidos pelos actores Eriq Ebouaney e Makeda
Monnet.
O ciclo propõe também uma leitura da entrevista que Marguerite Duras fez a Sarah Maldoror a propósito da sua encenação teatral da peça Les Nègres, de Jean Genet, publicada em 1968 sob o título A Rainha dos Negros Fala-vos dos Brancos.
Em simultâneo, a Carlotta Films acaba de lançar no mercado francês um DVD Blu-ray que inclui a versão restaurada de Sambizanga com uma breve introdução de Martin
Scorsese, e completada por uma entrevista com Annouchka de Andrade e Henda
Ducados -, por Monangambééé e pelos três filmes da “Trilogia do Carnaval”.
A retrospectiva no Pompidou é organizada em ligação com a exposição colectiva Paris Noir, patente no Centro Pompidou até 30 de Junho, com o subtítulo “Circulações Artísticas e Lutas Anticoloniais 1950-2000”, correspondendo ao período de actividade de Sarah Maldoror enquanto artista interveniente e interventiva.
(Público)