“KaMutxukhêti” estreia hoje

Estreia hoje, 16 de Março, a peça teatral “A amarrada chuva de KaMutxukhêti”, inspirada na obra do escritor Teodoro Waty, que tem o mesmo título que a peça de teatro. O espectáculo poderá ser visto no Cine-Teatro Scala, cidade de Maputo.


A história retratada na peça é inspirada no texto de Teodoro Waty, que escreveu sobre Mutxukhêti, um posto administrativo pertencente ao distrito de Chibuto. Nos primeiros anos após a independência, Mutxukhêti teria sofrido uma estiagem prolongada, causada pela falta de chuva e que acabou por afectar até animais. Faltava tudo naquele local, afinal de contas, mais tarde viria a se perceber que a chuva tinha sido “amarrada” no domínio do campo obscuro.


“O espectáculo é uma viagem de pessoas que saem do Sul para o Norte à busca de soluções para problemas de chuva. Enquanto fazem esta viagem encontram peripécias que nos ligam enquanto povo. Durante muito tempo ficámos com esta coisa de tribalismo, mas isto não existe, somos um só povo. Em vez de apedrejarmo-nos, podemos aprender um do outro. Somos diferentes, mas podemos tirar proveito um do outro. Trazemos esta beleza para mostrar que era bom que fôssemos todos um só”, esclarece Maria Atália, encenadora da peça.


Aqui e acolá, “KaMutxukhêti” aborda os problemas da falta de educação, escolas, habitação, bem como a inércia dos que detêm o poder quando se trata de resolver problemas que inquietam a população.


“O mais interessante é que a crítica não vem do povo, mas é uma das mulheres do rei a dizer que não podem ser os filhos do governante a ostentar riqueza enquanto o povo sofre. Quem dera que essa visão pudesse se materializar, que os reis olhassem para o povo e compreendessem que sofre. Quem sabe se desta vez os governantes se tocam e pensem na mudança. No espectáculo, o rei manda as suas mulheres colocarem bilhas para que o povo percebesse que ele está preocupado. Se o povo não vê nada vindo do Governo também faz coisas estranhas”.


A encenadora garante que é o início da fase de encenação de textos originariamente moçambicanos e que outros projectos semelhantes já estão a ser idealizados. “Estamos também nesta senda de fazer o casamento entre literatura, poesia e teatro. É um desafio que nos estamos a propor. O teatro não vive apenas de peças teatrais, pode existir a partir de um poema, uma prosa, e essa é a nossa maior motivação”.
Para Maria Atália, o texto de Waty é rico, espelha a realidade moçambicana a partir de Mutxukhêti. “Mas quem fala desse lugar está também a olhar para outros pontos do país, dos problemas que assolam Cabo Delgado, Boane e Sofala. Estamos a mostrar que não há diferença entre Sul, Centro e Norte. Somos um povo unido”.


“A amarrada chuva de KaMutxukhêti” foi adaptada por Evaristo Abreu em colaboração com Policarpo Mapengo e Vítor Gonçalves. A encenação é de Maria Atália e Vítor Gonçalves, tendo a produção geral ficado na responsabilidade de Yunassy Muchanga.


O espectáculo, que já agita a capital do país, deverá contar com as actuações de uma nata de ilustres figuras do teatro nacional. São eles: Adelino Branquinho, Dadivo José, Fernando Macamo, Horácio Guiamba, Josefina Massango, Lucrécia Paco e Violeta Mbilane.


Completam o elenco jovens estudantes do teatro da Escola de Comunicação e Arte (ECA) da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) como é o caso de Amanda Ustá, Benedito Vevéve, Eduh All Talents, Fernando Maholele, Helena Tembe, Ilda Armindo, Júnior Nuvunga, Lizha Fox, Pércia Anuário e Shércia Carolina.
A produção, ao envolver a juventude e colocá-la em contacto com os gurus do teatro numa experiência real de uma super-produção, quer incutir neles a ideia de que é possível fazer um teatro com profissionalismo, mas, acima de tudo, que em Moçambique se pode viver de teatro.
“Temos uma junção de escolas: Mutumbela Gogo e Mahamba. Tínhamos Gungu, mas o actor teve de ficar de fora por causa de outras agendas. É a necessidade de sermos um só. Temos estudantes da ECA que estão no primeiro ano do curso, e este espectáculo vai significar muito nas suas vidas. Mostrar a estes novos que passos podem dar até chegar longe, que é possível viver de teatro”.
O espectáculo é multidisciplinar, congregando música e dança. A trilha sonora fica sob cuidados de Lenna Bahule; a preparação corporal e coreografia na responsabilidade de Maria José Macamo e Osvaldo Passirivo; cenografia e figurinos com Sara Machado e a luz com Phayra Baloi.
Mais de 50 profissionais fazem parte do elenco. Para a encenadora, não tem sido fácil gerir o grupo. “Quando se diz trabalhar sob pressão, muitas vezes nos mentimos. É um ‘stress’ ter uma vasta equipa. Mas é desafiador”, diz a encenadora.
A peça deverá ter a duração de 70 minutos. É expectativa da produção levar o espectáculo ao posto administrativo de Mutxukhêti, assim como para outras províncias, como forma de mostrar a diversidade cultural que há no país e incentivar outros grupos a encenar a partir da literatura moçambicana.

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