Delírio dos Lúcidos por Ganhanguane Masseve

Texto de Ganhanguane Masseve in “Monólogos d’alma”

[…] Vociferante como se revela a angústia dos insípidos, a era dos vândalos, babilónios e bárbaros não fora com os tempos maléficos, mas se reinventara no cisne pensamento dos dias actuais. __o bem eterniza o mal e ambos conflituam-se perpetuamente__Não se erradicara a colonização nos primórdios da liberdade, tomara apenas as formas coloquiais de se lhe esventrar o cérebro humano e esvai-lo até deixa-lo nu de raciocínio crítico, de jogá-lo no alto do nada e descer a cova dos mortos para habitar, definitivamente, sob o conformismo comum, subjugado pelos lapidadores da natureza.

Os mouros, esses cunhados emprestados em último grau cunham tudo e nada, apenas para desabitarem o cerco do amor e reprovar a ambiguidade da dinastia eloquente dos intelectuais, génios, políticos e visionários. Não se diga, da sede da vitória, essa engasgada pressão que revolve o alto e o baixo do ventre fogueado de ânsias e medos. Medos que pululam a faringe esganiçada até à traqueia e fungam gritos milésimos no silêncio da dor adiada no efeito nulo da voz, dominada pela imposição do ridículo, que faz dos insensíveis olhos dos mundanos de hoje meros viventes e obedientes sem a pena emprestada aos sensíveis, para chorarem fingimentos de empatia e dor partilhada até à exaustão.

Vingue-se a solidão esventrada no peito aberto por lâminas aguçadas de sofreguidão. Os penosos perderam a pena nos meados do século, os quais fungaram destrocar a dor pela própria dor; fungaram desertar os humildes e ferir até às tripas os últimos honestos que ainda coexistem entre os espíritos nefastos de imperdoáveis actos maltratantes. Deus se lhes esventrou – aos incólumes do mal – um tacão por entre o cio da trindade a que milhares de cristãos professam em delicadeza fé. Talvez se diluíra, tal sofrimento e agonia, na incapacidade das imensas e variadas dores de que se lamenta o homem mundano do século XXI.

Desenho de Joaneth

Esta supérflua e insípida criatura terrena que funga bondade a outrem e mata-se. Roga a deuses e swikwembos [1] e respondem-no, ilusoriamente. A crença importada para massacrar a fé é a crença do outrem indigente. Desse Deus que assiste de longe o sucumbir do paupérrimo e aplaude a fraude e a extorsão. Sua possível insensibilidade aos pastores, padrecos e bispados de convicção e fé cega, que os outorga o título de santos carnais de votos de abstinência fictícia, assiste os seus no sufrágio do grito na carne apunhalada pelo saque, pela máfia e pelo desengano religioso. Deus assiste-se a si com o receio de o homem se tornar desumano, e julgá-lo em tribunal mundano, depois de o reduzir, também, à carne. O espírito em vento, a alma em fulcros de paz, a carne esganiçada.

O homem é um ventrículo desnorteado do ser, até os peixes têm rumo. Os seres rumam para a morte sem argumento para mudá-la. E a eternidade é apenas um capítulo promissor da outra vida. A eternidade custa a fé mundana. O homem é um caçador eterno da eternidade.

Glossário
[1] – Espíritos maléficos; demónios.

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Ganhanguane Masseve, Psicólogo, escritor e activista cultural, nasceu a 23 de Fevereiro de 1982 na cidade de Maputo e vive na Matola. É licenciado em Psicologia Educacional pela Universidade Pedagógica de Maputo, onde foi assistente de “Planificação Curricular” e “Educação de Adultos”. Tem textos publicados no Noticias, Soletras, Literatas, UP-Noticias e outros. Foi Vice-Presidente do Movimento Literário Kuphaluxa, do Centro Cultural Brasil-Moçambique. É docente de Psicologia e Pedagogia e colaborador da IQRA TV.

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