Não é para entrar nos seus quartos

É COM elevada estima que congratulamos as nossas televisões por abrirem o seu espaço de antena para a divulgação das nossas artes, que são, afinal, fragmentos da nossa cultura.

Os programas de entretenimento que as estações nacionais transmitem a meio da tarde têm como elemento comum a difusão da música moçambicana e dos seus fazedores, essencialmente, à excepção de um e outro que exploram outras manifestações artísticas.

Entretanto, é preciso assumir que a incapacidade de produzir telenovelas não pode ser traduzida em episódios gratuitos de invasão da privacidade da vida dos artistas, como a reprodução de conflitos de conjugues mal resolvidos.

Até porque, à medida que estas discussões sofrem interferências de terceiros, sobretudo de quem as coloca para o conhecimento público, podem ganhar outros rumos, talvez não os desejados pelos envolvidos.

Na nossa opinião, os meios de comunicação social, ao invés de reproduzir narrativas que deveriam ser resolvidas entre quatro paredes, poderiam investir os seus minutos de antena, que não são baratos, em matérias sobre a obra destes fazedores de arte (ou produtores, se quisermos enveredar pelas perspectivas marxistas) e o seu processo de criação.

Estas intromissões, mormente guiadas pela certeza de audiência e venda de jornais, não deixam de constituir um atropelo à moral e levantar alguns questionamentos éticos. Há que se levar em consideração que, em meio a estes episódios, alguns enveredam pela mentira ou publicação de matérias sem que haja o devido apuramento dos factos, o que atenta à credibilidade da classe jornalística e dos media como um todo. Sem contar, neste sentido, com os efeitos nefastos que estes embustes podem vir a ter na vida dos envolvidos.

Porém, como diz o ditado, “a culpa não pode morrer solteira”. É preciso arrogar a quota-parte da sociedade e reconhecer a sua cumplicidade, pois ela replica essas informações sem a mínima avaliação.

Em resposta às publicações mediáticas, assiste-se a internautas que publicam e partilham nas redes sociais, em conversas corriqueiras, essas mesmas especulações, assumindo como verdades absolutas e, desta forma, tomando e influenciando posicionamentos e condenando os protagonistas do enredo.

Sem nos apercebermos, como sociedade, os nossos comentários, e nalguns casos insultos, constituem um apedrejamento a estes indivíduos cujas feridas podem nunca mais cicatrizar.

Neste sentido, chamamos à reflexão profunda das nossas atitudes e à avaliação dos seus efeitos. Diz uma sabedoria da plebe, vulgar até certo ponto, que “não faças aos outros o que não gostarias que fizessem a ti”. Que haja respeito à vida alheia!

*Publicado no Jornal Notícias na edição de 26/08/17lEONEL2Acredito que pequenos gestos podem mudar o mundo. Encontrei no Jornalismo a possibilidade de reproduzir histórias inspiradoras. Passei pela rádio, prestei assessoria de imprensa a artistas e iniciativas. Colaborei em diversas página culturais do país. Actualmente sou repórter do jornal Notícias. A escrita é a minha arma”.

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