A águia
O rato
A mágoa
A cobra
Desdobra os percursos da toupeira.
Às vezes é tão fácil falar de animais. De seres de um reino onde os sentimentos são tão predatórios, onde só há caça e caçada. Animais triunfam, com as presas presas na carne quente. A águia sente o vento mais leve, a fome mais perto de ser saciada quando o seu bico fica mais próximo dos pelos da sua refeição. A cobra caça mesmo sem luz.
Agora sinto que estou a falar sem pausa de animais. E no fundo sei que é uma desculpa para não falar de ti. Para não falar de nós. No fundo sinto que somos as presas neste mundo, que o Sistema é predador.
Roemos as unhas, percorremos milhas sem luz. Andamos grandes distância sem sol, sem lua.
Primeiro falo tu, depois falo nós. Sinto que somos as presas e tememos os predadores que há entre os nossos medos.
Queria dizer que o nosso final será feliz, que nas nossas histórias vamos triunfar, pois temos intelecto para mensurar a distância que nos separa do insensato, mas meus dedos trémulos sabem que somos toupeiras a escavar esperança no provável. E é provável que o improvável nos cobre por essa fé.