Num tempo em que tudo parece passar rápido demais, o Festival de Teatro Cenas Curtas está de volta a Maputo, criando um espaço para parar, experimentar e arriscar. Na sua quarta edição, o festival acontece de hoje até domingo, dias 25, 26 e 27 de Abril, sempre às 18 horas, com espectáculos divididos entre a Fundação Fernando Leite Couto (FFLC) e a Casa Velha , que volta a ganhar vida como um marco da cultura da cidade.
A abertura será marcada por uma conversa com o título “Dramaturgia Singular”, a ter lugar nesta sexta-feira, na FFLC. A reflexão será conduzida por Vinicius Araguaya, director e argumentista brasileiro, com largo percurso em dramaturgia e produção de ficção e documentário. Será uma provocação às ideias feitas sobre o acto de escrever para teatro: “Partimos do pressuposto que cada ser tem uma voz singular. Perseguir a singularidade é a meta da nossa escrita pessoal. Mas será que há maneiras de catalisar esse processo? Há atalhos? A estrada é a mesma para todos, ou é tão singular quanto o timbre da nossa própria voz?”, lança Rita Couto, coordenadora do festival.
No segundo dia, o festival transfere-se para o palco da Casa Velha, que ressuscita das cinzas após anos de silêncio. E fá-lo com estrondo: com “Improvícios – Batalha de Teatro do Improviso”, um espectáculo feito de jogo, surpresa e virtuosismo espontâneo. Vários intérpretes sobem ao palco para improvisar, testar limites e reinventar a cena, sob o olhar cúmplice do público, que terá a missão de eleger o mais inventivo da noite. Entre os nomes confirmados estão Ailton Zimila, Fernando Macamo, Joana Mbalango, Kátia Majate, Lirico Poético, Lucrécia Noronha e Osvaldo Passirivo.
Esta abordagem representa uma ruptura deliberada com os moldes das edições anteriores do “Cenas Curtas”, que propunham temas e adereços como ponto de partida. Este ano, o festival procura oferecer ao público o privilégio de assistir não apenas ao resultado final, mas ao próprio processo de criação – muitas vezes invisível, sempre frágil e por isso profundamente humano. É, também, um convite à classe artística para voltar à essência do ofício: o risco e o prazer do inesperado.
No domingo, o encerramento do festival será na FFLC, às 18 horas, com um momento de partilha horizontal: jogos de improviso abertos a todos, artistas ou não, em que o palco deixa de ser território sagrado e se transforma numa praça viva, onde todos podem representar.
Num país onde a cultura resiste tantas vezes sem apoio e onde a criação teatral vive entre o entusiasmo e a precariedade, festivais como o Cenas Curtas lembram-nos que o teatro continua a ser uma arte urgente – não porque responde, mas porque pergunta. Improvisar, afinal, é também uma forma de existir.