Esta é a minha carta para ti. Não sei se sou um desiludido ou um apaixonado. Mas sei que sou um pensante, um pensante louco que tem pensado muito em ti, não sei se é esta música, não sei se é esta solidão, o facto é que este pensante tem pensado em ti.

Sou, provavelmente, a pessoa que mais dor te causou. Que mais te castigou e te fez chorar, culpa minha, da arrogância ou da cegueira se calhar, dos sentimentos que nunca são claros. Facto é que precisei perder-te duas vezes para perceber que a tua presença fez de mim tudo o que eu sou. Precisei experimentar o gosto da solidão para descobrir que tudo que sempre quis esteve todo este tempo na minha mão e eu não percebi.

Não sei se te amo, sabes que estou a ser sincero, mas sei que penso sempre em ti, e que quero estar sempre contigo. A tua presença faz-me bem. Não sei se de alguma coisa me serve estar a escrever isto. Também não sei o que quero dizer com isto, se calhar sejam as drogas que tenho consumido excessivamente.

Cada vez que soprava o fumo para fora dos pulmões a névoa em frente de mim ia se desfazendo, ou se calhar, aumentando … A minha vida tem sido um quebra-cabeças, a minha cabeça esta a ponto de quebrar.

Talvez tenha bebido muito da tua bondade, e da tua boa vontade, viciei-me, e agora faz-me falta. Não sei, se calhar eu seja, só mais um puto desesperado e desocupado, que acha que sabe escrever. Mas, eu não escrevo eu falo, mas falo pelas letras, ela, a minha alma não me deixa descansar enquanto não o fizer.

Por vezes odeio a minha sinceridade que é maior do que o meu orgulho. Pois, juro por Deus, aquele de quem nunca tive dúvida de amar, que em cada letra, palavra frase, deste texto, carta ou confissão; ainda não sei o que é, o facto é que não consigo parar, eu vou ouvindo o meu ego gritando e exigindo que pare! Não consigo, esse não sou eu. Não, pelo menos por agora…

Já não sei muito bem, o que queria dizer-te, só sei que não quero perder-te, mas, ao memo tempo não quero ter-te, é um querer não querendo… sei que conheces-me a tempo suficiente para saber que assim sou eu, uma confusão…

Por favor não me entenda mal, não! Eu não quero que pares a tua vida por minha causa! Porque, no fundo eu sei bem que sempre fui a pior das tuas escolhas. Nunca percebi o que de tão fascinante viste em mim. Tu és a única que em momento algum dispôs-se a entender a confusão que eu sou, nunca fugiste, mesmo quando eu tive vontade de fugir de mim. Acredite, já te disse e volto a repetir, não tenho medo da morte.

Continuo aqui porque acredito que aqui estou por um propósito, mas se continuar sem perceber esta merda de coração e de cabeça, eu juro, que prefiro ir para o outro lado. Porque eu sei que não haverão drogas que me farão perceber…

Apetece-me um cigarro, já me doem os dedos de tanto martelar nestas teclas, sim! Martelar! Eu não escrevo, eu bato nelas e ordeno que digam o que ela sente… ´ela´, a minha alma ou será o coração, não sei… diz-me tu… Porque tu conheces-me melhor do que a mim mesmo.

Eu sou uma confusão. Uma confusão com auto-estima e orgulho, não! Orgulho não! Não sei explicar. É complicado! sempre disseram-me que haveriam coisas que eu perceberia com a idade e com o passar do tempo, mas o facto é que todos dias eu vou-me sentindo mais criança, e não percebo nada… se calhar seja isso eu nasci para morrer, sim, eu vou me tornando criança, viro bebé e qualquer dia desses eu desapareço, volto para o útero da minha mãe e se calhar para os testículos do fugitivo do meu pai e termine em masturbação ou então, em um útero qualquer diferente do da minha mãe. Bem, não sei.

Agora que disse-te tudo isto sinto-me bem mais aliviado, sinto-me leve como uma pena… A propósito a melhor memória que tenho de ti é o teu sorriso, sim… foi há dez anos numa noite de luar, estávamos os dois numa rua escura tu olhaste para mim beijaste-me sorriste eu olhei para ti e não disse nada, não sorri porque nunca gostei do meu sorriso, passei a aceita-lo, tu perguntaste-me o que se estava a passar e eu respondi que nada, e beije-te mais uma vez, sim, sim, sim, aquela ficou-me na memória e duvido que algum dia me esqueça.

Não quero parar, mas preciso parar porque já me doem os dedos… não sei se terás paciência para ler isto. Nem eu dou-me tempo para ler as merdas que escrevo. E, quando leio, muitas vezes deixam-me triste, parecem cartas fúnebres. Enfim, cada um com seus demónios.

Eu sou o meu próprio demónio e acho que tenho medo de enfrenta-lo, tenho medo…. Se calhar ele seja meu único e verdadeiro medo… f…da-se, preciso fazer alguma coisa com relação a isto… Desculpa… só queria que soubesses, de quê, também não sei! Mas, queria que soubesses …

Por Stélvio Martins