“Lutar Para Perder”, peça de Ailton Zimila, regressa hoje, às 19h00, no Espaço Cultural 16Neto, cidade de Maputo, com uma proposta artística que rompe os limites do teatro tradicional e mergulha no coração sombrio do conflito armado em Cabo Delgado.

A performance híbrida, com luz de Phayra Baloi e desenho sonoro de Gerson Mbalango e Hilário Manhiça, transforma a experiência teatral numa convocação política. O espetáculo coloca o espectador frente a frente com um militar solitário, abandonado pelos sistemas que o formaram e enviado a uma guerra sem nome. É um trabalho que alterna entre o realismo bruto e a poesia do trauma, interpelando diretamente o público com perguntas que raramente chegam à arena pública moçambicana: quem lucra com esta guerra? Quem a alimenta? E por que razão os combatentes, longe de serem tratados como heróis, desaparecem na sombra do esquecimento?

Desde a sua estreia em 2022 no Festival de Cenas Curtas, e mais recentemente na série Discursos no Makhall’Artes, “Lutar Para Perder” tem evoluído como uma obra de resistência e denúncia. Ao invés de oferecer respostas fáceis, Zimila prefere dramatizar o vazio, silêncio das instituições, o abandono estatal, a guerra que não termina e não é sequer bem explicada.

O conflito em Cabo Delgado, que já provocou mortes e deslocamentos, raramente é representado em palcos artísticos. Zimila quebra esse silêncio com uma encenação física, visceral, que usa a linguagem do corpo, da luz e do som para evocar os fantasmas de uma guerra que continua a destruir vidas dentro e fora das frentes de combate.

“Lutar Para Perder” é apenas um espetáculo que faz um apelo à escuta. Um lembrete de que a guerra tem rostos, nomes, e consequências que ultrapassam os campos de batalha. Num país onde a memória colectiva é frequentemente moldada pelo silêncio institucional, o palco torna-se aqui um lugar de justiça poética.

A peça será apresentada numa sessão única.