Lara Sousa em destaque no IndieLisboa 2025 com documentário sobre luta anticolonial
A realizadora moçambicana Lara Sousa volta a afirmar-se no circuito internacional com “Nós, Povo das Ilhas”, documentário codirigido com o cabo-verdiano Elson Santos, selecionado para a 22.ª edição do IndieLisboa, Festival Internacional de Cinema, que decorre de 1 a 11 de Maio, em Portugal.
A obra mergulha na história silenciada de 31 jovens cabo-verdianos que, nos anos 1960, viajaram clandestinamente até Cuba para receber formação militar com o objetivo de lutar pela libertação da Guiné e Cabo Verde do jugo colonial português.
Num registo que cruza memória e resistência, Nós, Povo das Ilhas parte de uma fotografia esquecida e propõe uma conversa íntima com os sobreviventes dessa missão, refletindo sobre o passado, o presente e a utopia de um país ainda em construção. O documentário já foi selecionado para eventos de prestígio como o Hot Docs, Cannes Docs e Durban FilmMart, tendo conquistado prémios e bolsas internacionais de instituições como o IDFA, Sundance e HotDocs Blue Ice Fund.
Com uma estética poética e politicamente engajada, Lara Sousa tem vindo a afirmar-se no panorama do cinema africano contemporâneo. Formada em Cuba, a sua filmografia reflete um olhar autoral sobre o entrelaçamento de memória, território e identidade, como já demonstrou em projetos como The Ship and the Sea ou Katalina, Kalunga, Karonga – Sea Waved Tales. A seleção para o IndieLisboa confirma o percurso internacional da realizadora, cujos trabalhos têm passado por festivais como o HotDocs, o IDFA e a Bienal de Dakar.
Ainda com ligação a Moçambique, o festival apresenta “Balane 3”, do cineasta português Ico Costa, na Competição Nacional. O realizador, que tem vindo a construir uma sólida relação artística com a “Perola do Índico”, regressa ao território moçambicano para esta nova obra, dando continuidade ao seu interesse pelas paisagens humanas e geográficas da África Austral.
As produções cabo-verdianas também marcam presença, nomeadamente com Orlando Pantera, documentário de Catarina Alves Costa, na secção IndieMusic. O filme presta homenagem ao músico cabo-verdiano Orlando Pantera (1967–2001), cuja obra influenciou nomes como Mayra Andrade, Lura e Princezito. Combinando imagens de arquivo, encenação musical e depoimentos de artistas contemporâneos, o documentário devolve visibilidade ao legado de uma figura que morreu prematuramente, antes de gravar o seu primeiro álbum a solo.
A realizadora luso-cabo-verdiana Denise Fernandes também estreia a sua primeira longa-metragem, Hanami, outra das obras em Competição Nacional.
O Brasil volta a ter uma presença expressiva, com destaque para Milton Bituca Nascimento, de Flávia Moraes (IndieMusic), que acompanha a digressão de despedida do lendário músico brasileiro, e O Último Azul, de Gabriel Mascaro (Rizoma), que aborda a exclusão social dos idosos.
Com um total de 13 filmes lusófonos distribuídos por diversas secções, o IndieLisboa 2025 reafirma a força do cinema de expressão portuguesa e a relevância crescente das cinematografias africanas e latino-americanas no circuito internacional. O festival decorre em várias salas da capital portuguesa, com especial destaque para a Culturgest, e mantém o compromisso de dar visibilidade à diversidade do cinema lusófono contemporâneo.
