Azgo sentir o primeiro dia

Quando, em 2019, os membros do Azgo desmontaram o palco, para mais tarde fazer o balanço, não pensaram que uma pandemia poderia parar o mundo e fazer com que o festival retomasse quatro anos depois.
Toda revolução tem um dia D e 19 de Maio foi a data escolhida para o regresso de um dos maiores festivais de África. No ensaio da quinta-feira, os músicos estavam apreensivos e tinham razão para tal, nuvens cinzentas preenchiam o céu, prenunciando chuvas fortes. Na sexta, elas ainda estavam carregadas, cobriram o sol e em alguns pontos da cidade de Maputo chuviscou. Por volta das 19h00, o medo foi deixado de lado, prova disso foi o aglomerado de pessoas que aguardavam para ingressar na sala grande do Centro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM).
A proposta eram concertos intimistas, que o Festival tradicionalmente acontecem no primeiro dia no CCFM.
Silêncio, todos acomodados, vai arrancar o concerto do músico Fayazer da Ilha Reunião.
Nas primeiras músicas, ficou evidente que o artista inspira-se nas suas raízes e na história do seu povo.
O público sedento, aceitou os acordes como afeição, à espera que o êxtase chegasse a qualquer momento. No entanto, o maior êxtase era a retoma de um festival que já é tradição no calendário cultural africano, em particular de Moçambique.
Com uma performance morna, Fayazer evocou alguns temas do seu último álbum “Empire Maron”, lançado, em 2021, que mescla ritmos tradicionais da Ilha Reunião (maloya) e a vibração urbana do hip-hop.
O público saiu da Sala Grande para o jardim ansioso por mais. Com todas as atenções focadas em si, o colectivo The Hood Brodz subiu ao palco e deixou a amostra da sua EP Afrofuturismo. A dupla de irmãos djs e produtores nacionais é composta por Ayrton e Hélio Massinga (Hélio Beats). Eles começaram a carreira em 2017, pois o mais velho já era DJ solo e Hélio produtor musical. Porque os irmãos (Broz) eram do bairro (Hood) resolveram juntar suas ideias formando o grupo The Hood Brodz.
O público escutava a música eletrônica, com essência Afro Tech, Afro House e Deep House. Os sons afro house de The Hood Brodz destacam-se com vocais africanos, latinos, nacionais, bateria poderosa, leads e antenas e muito uso de melodias.
Na sua actuação também houve espaço para colaborações com Dona Saquia da Mafalala e Thobile Makhoyane de Eswatini.
Para fechar a noite, foi a vez do Vox Sambou, que se apoderou da Sala Grande e deu o êxtase que o público esperava desde a primeira prestação. No meio da primeira música ficou justificado porque ele é considerado o “embaixador do hip hop haitiano” e de “a eterna voz do Haiti”.
Vox Sambou, que actualmente está radicado no Canadá, mostrou que é um letrista habilidoso e perspicaz. Com letras em português, criolo, francês, inglês e espanhol, o artista envolve o público com melodias contagiantes em faixas sobre unidade, solidariedade e o legado dos seus ancestrais.
O público diverso que se fez ao Franco facilmente ficou cativado, pois musicalmente o artista faz uma mistura de hip hop com afrobeat, grooves latinos e batidas de reggae, além de buscar elementos de gêneros do Haiti.Pela noite a dentro a música ecoou, dando o aperitivo do que seria o Azgo nos dois próximos dias.

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