Preciso da madrugada 

Por onde anda a minha gata? Tenho textos por terminar, mas só penso nela, sinto sua presença, os ratos estão estranhamente silenciosos, os ecos das músicas de Gunn e The Machine estão tão descompassados, repito os `backgrounds´, pauso a música e chamo por ela. Calo Benny, será que algum açougueiro veio recolhê-la? 

“The Butcher coming”, esta frase me assombra e, para calar esta angústia, grito: Brr boom, boom, boom, boom, boom, Boom, boom, boom, Boom, boom, boom, boom, boom, boom, boom.

Olho para os manuscritos:  ainda a lapidar a personagem principal, impaciente, à minha espera. Descansa, meu cota, tenho outras preocupações. A minha Preta está trombuda, tenho de lhe oferecer algo duro e concreto, mas seu ultimato amolece minha transpiração. 

Respiro fundo, vejo que as mensagens que lhe escrevi foram a caixa de saída, mas nada foi enviado, nem o manuscrito semi-terminado e muito menos a minha preocupação e desejo de lhe ter por perto. 

Queria terminar o parágrafo com um background de Conway, mas minha mente se auto-censurou e, quando fecho os olhos, escuto o meu pertenço rival a entrar com uma voz suave, a explorar os interstícios da minha ausência. 

Tenho trabalhos por terminar, é complicado chegar na labuta quatro horas antes do meio-dia e a caixa de email em breve estará cheia. Estou cheio, doem-me os dedos e o estômago. Sem vontade do café, nos lábios secos o saborear o molhado das nuvens artificiais que tornam a atmosfera da minha casa mais densa. A casa é tão densa sem a gatinha aqui, onde estará a Mada?

Fecho o laptop, mas sei que Tovar não larga o meu pé tão cedo, preso no século XVII, quer ser carne e caminho tranquilo na embarcação que rasteja em areias índicas, em terras ibéricas e vice-versa. 

É complicado ter tempo para estar no arquivo, Daniel vem até mim, toma algumas cervejas, mas é histórico, está minha procrastinação só deixa Tovar mais inquieto, que já não suporta minhas desculpas pouco elaboradas. 

Abro o laptop, juro que hoje tenho fôlego para ler poemas que precisam de fogo para ganhar forma, mexo na batedeira, o liquidificador vermelho rosna no passado e é tão presente esta impotência que torna os meus textos tão imprecisos. 

Deixo os versos em repouso, ligo uma playlist, acendo a palha, mas o fogo nunca se manifesta, o que atesta, que não será desta que teremos a morte do monstro da cara preta. Minha cara inquieta, minha disciplina não se indireta, minha criatividade anda em linha recta, longe da meta, e falta astúcia e nenhum café lhe desperta, não haverá direta e a única coisa que sei é que o título deste texto deveria ser: Três manuscritos por terminar, 1115 mensagens por responder e 5745 por ler, apagar/arquivar.

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