Bailarinos solidários com as vítimas das cheias em Boane

Quinze grupos, um palco, uma causa. Os bailarinos moçambicanos deram as mãos, cientes de que o vermelho do sangue que corre pelas veias tem o mesmo tom, e formaram uma corrente pelas vítimas das cheias em Boane.

Através da recém-criada Associação dos Bailarinos Moçambicanos (ABAM), os artistas organizaram um espectáculo solidário. O evento aconteceu na última sexta-feira, no Museu Mafalala, sito no bairro com o mesmo nome, e juntou artistas de diversas disciplinas, bem como entidades de outras áreas, ao mesmo propósito de mostrar que, através da arte, é possível ajudar a quem mais precisa, sobretudo em momentos de vazio, dor e pranto. 

Os grupos apresentaram-se em estilos diversos. Na sua maioria, mostraram coreografias de ritmos tradicionais de várias partes do país, mas também ouve música, poesia e teatro. O Tufo da Mafalala abriu a noite. O conjunto é da casa  e cantou e dançou sons já conhecidos, acompanhados por tambores e outros instrumentos musicais. Composto por mulheres, o grupo tem uma forte influência Emakwa, evidenciada nas vestes, no mussiro e na letra e voz influenciadas pelo Suaíli. Em pouco mais de 10 minutos de apresentação, o Tufo da Mafalala fez o público vibrar, qual prenúncio do que ainda estava por vir. 

Fotos: Denilson Manhique (Lupa)

A ideia do espectáculo era incentivar o espírito de entre-ajuda e amor ao próximo, face ao estado de vulnerabilidade em que se encontram as pessoas directamente afectadas pelas enxurradas. Por essa razão, a senha de entrada para o recinto de espectáculo era a contribuição em produtos de primeira necessidade. O Makwaela Hodi foi a proposta a seguir. As mensagens apelativas eram faladas, cantadas e dançadas em consonância com a coreografia impregnada por movimentos vigorosos executados por homens.

Houve, ainda, passos de Ngalanga – mostrados pela Associação Cultural Xindiro – antes do conjunto Chimbunga subir ao palco. As máscaras Mapiko, o grupo mostrou um trabalho que explora o corpo, a força e o espaço.

A ocasião também foi feita de dança contemporânea. “Não estamos sob a mesma chuva”, bradou Edna Jaime, iniciando a sua performance. Composto por poesia e movimento, o número é acompanhado pelo texto da activista social, Énia Lipanga, através do qual a autora busca elucidar a sociedade sobre as diferentes realidades criadas pelas calamidades. É um texto que roça o sarcasmo e a comparação, para evidenciar que os efeitos das chuvas não são os mesmos, para os diferentes extratos sociais.

Ao cargo do rapper 3H, a música marcou presença e se fez solidária. O artista revistou os seus clássicos, buscou letras carregadas de mensagens de esperança para lançar o apelo à união e altruísmo.  

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