Uma Ámerica aos olhos de José Cabral

A viagem de três meses aos Estados Unidos de Ámerica do fotógrafo José Cabral deu origem as fotografias que compõem a exposição “Americanos”, inaugurada ontem, ás 18h30, no Camões, em Maputo.

Esta mostra resulta de uma parceria entre o Camões – Centro Cultural Português em Maputo e a produtora Art Dispersion (Portugal). E tem a curadoria de Rodrigo Bettencourt da Câmara.

José está a retratar as impressões que teve das pessoas, rotinas e coisas mais dos estados de New York, Washington, Chicago, New Orleans, San Diego/California, El Paso/Texas e no Novo México Santa Fé, Las Cruces e White Sands.

A exposição “Americanos” reúne um conjunto alargado de fotografias desta série, a preto & branco, com novas impressões efectuadas a partir dos negativos originais do fotógrafo moçambicano.

O projecto do qual resulta esta mostra é composto por mais de 150 fotografias desta série e conta com a colaboração do poeta Luís Carlos Patraquim, de José Manuel dos Santos, escritor, poeta, curador, agente cultural e director da Revista Electra e Alexandre Pomar, curador e crítico de arte.

“José Cabral exibe neste seu trabalho um agudo olhar e um pundonor subtil e mostra-nos a ‘sua América’ alheia ao famoso dream e onde há um silêncio prodigioso da imagem a ritmar uma música de dentro”, escreveu Luís Carlos Patraquim.

Gente e situações banais, prosseguiu o poeta, tantas que, ao menos para mim, julgo ouvir as notas das Gymnopedies de Satie. E a fera amansada na vulgaridade quotidiana dos dias a preto e branco da América.

Por sua vez, José Manuel dos Santos: “olhamos esta bela e rigorosa colecção de fotografias e reconhecemos, de imediato, uma voz visual. Ou encontramos um estilo que nos diz a visão que vê o que vê como vê. Ou descobrimos a pulsação de um olhar que bate ao ritmo incerto do coração secretamente selvagem.”

A exposição “Americanos” – fotografia de José Cabral estará patente em Maputo, entre 14 Fevereiro e 01 de Abril, no Camões – Centro Cultural Português, e poderá ser visitada de segunda a sábado, entre as 10h00 e as 17h00.

José Cabral (1952, Lourenço Marques/Maputo) começou por praticar com o pai, amante de fotografia e de cinema, técnico dos Caminhos de Ferro de Moçambique, que aos 12 anos lhe ofereceu um pequeno laboratório e uma câmara “caixote”.

Torna-se fotógrafo profissional em 1975. Começou como fotógrafo no Instituto Nacional do Cinema e passou depois de alguma prática de foto-repórter (1979-1982) a programas documentais menos determinados pela urgência para o Ministério da Agricultura e a Unicef.

De autodidata passou a professor no Centro de Formação Fotográfica, de 1986 a 1990. A sua fotografia – em especial a forma de a expor como trabalho de artista – foi-se tornando discretamente mais autobiográfica e até intimista, sempre sem deixar de ser documental e sem pretender ser formalista e narcísica mesmo nos seus muitos autorretratos de rua. A obra de Cabral ganhou mais visibilidade nas duas primeiras décadas do séc. XXI, em especial através de exposições subtilmente antológicas, equilibrando um lugar sempre algo à margem com o crescente reconhecimento público.

Cabral viajou para a América, durante três meses, em 1996, como bolseiro da Mid-American Arts Alliance, num amplo roteiro por New York, Washington, Chicago, New Orleans, San Diego / California, El Paso / Texas e no Novo México Santa Fé, Las Cruces e White Sands.

Faz uma viagem de descoberta – uma aventura para quem saía de Maputo ao cabo da guerra civil – viagem que é também reencontro com as linguagens e as visões que de algum modo o formaram, vistos os filmes, lidos muitos livros, sempre um olhar culto.

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