“Percursos” encerra a galeria da FFLC na temporada 2022

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No essencial, as obras de arte são a expressão de um pensamento. A individualidade de cada artista, a sua forma singular de ver o mundo, é que faz a marca ou particularidade de quem faz a obra. É o que se vê na exposição colectiva intitulada “Percursos”.

A inaugurar no dia 16 de Novembro, às 18.00 horas, na Galeria principal da Fundação Fernando Leite Couto, esta mostra de desenho e pintura reúne os trabalhos de Dito Tembe, Pedro Mourana e Carlos Fornasini.

Com efeito, o título “Percursos” pode sugerir a acção ou o resultado de percorrer (atravessar um espaço, efectuar um trajecto). O termo também pode ser usado para se referir ao espaço que alguém ou algo percorreu ou percorrerá.

As respostas aos reais significado(s) dilui(em)-se através das diferentes perspectivas que os três artistas têm sobre o mundo, como fica claro nesta exposição colectiva. Por exemplo, Dito Tembe, nos conduz através de rabiscos que dão forma aos corpos que desenha. Só os seus traços abrem uma infinidade de interpretações como a sensação de instabilidade emocional ou desejo de desejo de algo novo.

No sentido mais objectivo, ainda no caso de Dito, ao pensarmos nos seus percursos, não podemos ignorar o facto de entre 1987/89, ter frequentado o curso de desenho no Centro de Amizade H.D.S.F. Hause der Deutsche und Sovietische Freundschaft na cidade de Schwerin na Alemanha do Leste, durante a guerra fria, a que se junta o caminho que já tinha e vem fazendo nos circuitos nacionais.

Fornasini, por sua vez, autodidata que é, desenvolveu uma forma particular de pontilhado, paleta de cores e universo cromático na descoberta de uma interessante configuração de formas que reforçam essa percepção sobre a pluralidade do significado de “Percursos”.

Da trajectória deste artista discreto no seu atelier, destacam-se exposições colectivas em Havana, Cuba, em Hamburg, Alemanha e em vários locais de Maputo, Moçambique onde realizou igualmente exposições individuais de reconhecido mérito artístico.

PMourana, através de elementos comuns nos artistas nacionais, moldou um traço único na criação do fantástico e na visão do sonho irreal.

E nesta mostra o vemos explorar motivos como mulheres – quase sempre de semblante triste – e homens numa posição autoritária e distorcida como que para expressar um sentimento de superioridade e de posse.

O artista, bem estabelecido no circuito nacional, traz a “Percursos” a cor azul trabalhada em diferentes tons e contextos.

Esta opção, observando a partir da psicologia das cores pode significar tranquilidade, serenidade, harmonia e espiritualidade. E paradoxalmente está associada à frieza, monotonia e depressão. E num plano material, simboliza a água, o céu e o infinito.

Esta exposição, que estará patente até 15 de Dezembro, marca o encerramento das actividades da galeria para o presente ano.

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É licenciado em Jornalismo, pela ESJ. Tem interesse de pesquisa no campo das artes, identidade e cultura, tendo já publicado no país e em Portugal os artigos “Ingredientes do cocktail de uma revolução estética” e “José Craveirinha e o Renascimento Negro de Harlem”. É membro da plataforma Mbenga Artes e Reflexões, desde 2014, foi jornalista na página cultural do Jornal Notícias (2016-2020) e um dos apresentadores do programa Conversas ao Meio Dia, docente de Jornalismo. Durante a formação foi monitor do Msc Isaías Fuel nas cadeiras de Jornalismo Especializado e Teorias da Comunicação. Na adolescência fez rádio, tendo sido apresentador do programa Mundo Sem Segredos, no Emissor Provincial da Rádio Moçambique de Inhambane. Fez um estágio na secção de cultura da RTP em Lisboa sob coordenação de Teresa Nicolau. Além de matérias jornalísticas, tem assinado crónicas, crítica literária, alguma dispersa de cinema e música. Escreve contos. Foi Gestor de Comunicação da Fundação Fernando Leite Couto. E actualmente, é Gestor Cultural do Centro Cultural Moçambicano-Alemão

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