Cinco dias de um diário que poderia ser meu (3)

Dia 3

Peguei uma camisa, o ferro de engomar, calculei os minutos e decide levar uma camiseta, a jeans de ontem e as desculpas de sempre. Obrigado Leonel, estou a aprender a me perdoar. Sou humano, é fresco e avermelhado o líquido que os mosquitos sugam. Sozinho, já nem luto, deixo o macho do anopheles sobrevoar e escolher a parte que lhe apetece. Sinto a picada, me sinto mais humano.

 

É tão idiota o último parágrafo que escrevi.

Pasta nas costas, dois laptops, uma agenda, a mesma e inútil. Já me convenci, não sou exemplar, Glória Maria.

Espero pelos transporte, enquanto rumino: nova bateria, comprar solução ou vender a preço de banana?
O relógio conta, deixa-me andar, no caminho a solução me encontra.

 

Nem posso escutar música, meu celular está sem bateria, estou com fome, deixei as bananas e a lancheira em casa por distração. Meu esforço em vão, tudo vai apodrecer. Mas no fundo todos vamos apodrecer.

 

Subidas, descidas, curvas, temperatura extrema, os camiões em alta velocidade quase me arrastam, não flutuo por conta dos laptop, os benditos laptops, queria agradecê-los com textos, bons textos, mas só vontade, bela vontade.

Sou parado, vejo um homem obeso, com as calças minúsculas a não darem acento suficiente para as nádegas, a consertar o carro.
-Vamos até à rotunda.
– Vou a cidade, mas todo que encurta minha distância é bem-vindo – disse enquanto assistia o conserto.

O carro pegou, o homem reparou fixamente para mim, voltei a repetir o que disse anteriormente em changana e só assim o homem sorriu e me aconselhou em sua língua materna: Desafiar 6 quilômetros em linha recta é tarefa de carros.

Subi, fiquei no centro e vi as mudanças em acção. Desço no carro quase em movimento, o veículo estava com problemas mecânicos e parar não era opção. Fui sem duble, Van Dame sentiu orgulho de mim. Entrei noutro transporte, olhei para ponte de pé, na cidade já estava sentado. No trabalho as pernas se queixavam, a chefe olhava para mim de soslaio, como quem faz um longo inquérito como apenas uma expressão facial.

Adormeci no meio de um texto, acordei do pesadelo, de olhos aberto vi que o que vi de olhos fechados é melhor do que actualmente vivo. Comecei a teclar com raiva, meus colegas me chamaram escrivão, mas no final do dia não consegui o texto que o sono lutou contra.

No transporte, de volta a casa, imaginei as mil e uma formas de finalizar o texto, mas as 2h a única coisa que havia terminado era a série Shadow and Bone, hoje o dia promete, que o sono não volte a me arrebatar.

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