Ainda estamos em guerra

Lançado há 25 anos, o livro “Comboio de Sal e Açúcar”, de Licínio Azevedo, apresenta histórias reais de pessoas envolvidas directamente em conflitos armados em Moçambique, especificamente na Guerra dos 16 anos.

A trama é sediada no norte do país, para onde o autor viajou afim de colher relatos que o permitissem reconstruir narrativas em torno dum comboio que, durante os anos do auge da guerra de desestabilização transportava mulheres de Moçambique à Malawi, para trocar sal por açúcar.

Entretanto, conta-se, por conta do conflito armado, muitas vezes as viagens do comboio de sal e açúcar tinham finais trágicos. Os seus ocupantes eram mortos, ou nalguns casos raptados por soldados e guerrilheiros durante as suas incursões.

Através do meio que fazia a ligação entre os dois países vizinhos, as populações rurais, sobretudo mulheres, conseguiam transportar mercadorias para o comércio e consumo familiar.

O enredo foi passado para as telas e exibido em diversos países e festivais de cinema, o de amealhou importantes distinções.

Em conversa com o actor moçambicano, Gércio Alexandre, no Museu Mafalala, por ocasião do Festival de Poesia Artes Performativas Poetas D’Alma, Licínio Azevedo explicou que o livro foi escrito com o objetivo de transmitir imagens que documentam o cenário vivido durante o conflito em alusão.

“Todo o meu trabalho sempre foi baseado em histórias reais, em pesquisas e entrevistas com a população. Comecei a fazer cinema, mas sempre retratando a realidade”, explicou.

A guerra nunca acabou, em Moçambique, observa. “Começou em 1964 e até hoje estamos em guerra”. Azevedo destaca o engajamento das forças sociais como uma das vias para o alcance da paz e bem-estar no país.

“O fundamental é uma sociedade civil forte. ONG’s e demais organizações que lutem em defesa dos direitos fundamentais dos cidadãos. Os direitos das mulheres e das crianças”, afirmou.

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