Pekiwa volta ao “Ntumbuluko” na exposição a inaugurar na FFLC

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Obra de Pekiwa

A partir de tradições seculares dos povos Tonga, tendo como material de trabalho madeiras velhas, buscadas na Ilha de Moçambique, Pekiwa compôs a exposição “Ntumbuluko”, a inaugurar hoje, na Galeria da Fundação Fernando Leite Couto (FFLC).

O escultor em portas, janelas e canoas velhas, conta “bocados de história das gentes que as viveu”, observa Yolanda Couto, curadora da FFLC e desta exposição, no texto de apresentação da mostra, intitulado Origens.

Às mãos do artista, prossegue a curadora, reavivam um passado, transformado em futuro nos desenhos esculpidos, que por sua vez traduzem estados de alma e um sentido estético herdado nas raízes de alguns grupos culturais do mosaico que constitui o país.

“Nas suas obras, há um magnetismo que nos transporta através dos tempos imemoriais até ao Vale do Rio Zambeze, a uma sociedade Tonga, rica e organizada que decorava as portas e janelas das suas casas de madeira e colmo, com desenhos esculpidos em relevo”, escreveu Yolanda Couto.

A arte de Pekiwa, contextualiza a curadora, integra os reinos africanos saltando das impenetráveis brumas do passado, para um presente maravilhosamente elaborado em que o artista traduz toda a pureza de um abraço ou a singularidade criadora das suas máscaras e das suas esculturas de homens e mulheres.

Os personagens representados nestas esculturas, interpreta Yolanda, sonham os tempos imemoriais em que nas grandes pradarias corriam livremente os guerreiros africanos com as suas belas e orgulhosas vestes tradicionais.

A liberdade de visão, prossegue a curadora, e expressão plástica das figuras que habitam as obras de Pekiwa, se manifestam de diversas formas culturais, quer seja através da música, da dança, de desenhos, tatuagens ou pinturas. 

Uma outra fonte de inspiração para o artista, são as canoas da Ilha de Moçambique, talhadas do tronco de cajueiros e de mangueiras. O formão apodera-se dos cascos gastos e humedecidos de tanto navegarem, moldando e esculpindo outras tatuagens.

Fala-nos das gentes do mar, e de um povo em que convergem as mais diferentes origens e costumes.

Pekiwa movimenta-se em cânones temáticos e estilistas com origem nas suas tradições, e no seu pai, o escultor Govane, mas traz à tona a sua própria criatividade e a sua marca de artista com formas e texturas muito próprias, onde se reconhece uma contemporaneidade inegável, juntando influencias culturais, o conceito e a técnica de reciclagem utilizada nas suas obras.

Os trabalhos, na sua maioria figurativos, estão animados de um poderoso sentido interno, traduzido em formas simples, exprimindo a essência das vivências sociais, a presença do real manifestamente carinhoso e simultaneamente satírico.

 Esculpindo a alma das suas figuras, sem renunciar ao seu passado e protegendo a herança cultural de moçambicana, Pekiwa afirma-se numa presença artística nova.

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É licenciado em Jornalismo, pela ESJ. Tem interesse de pesquisa no campo das artes, identidade e cultura, tendo já publicado no país e em Portugal os artigos “Ingredientes do cocktail de uma revolução estética” e “José Craveirinha e o Renascimento Negro de Harlem”. É membro da plataforma Mbenga Artes e Reflexões, desde 2014, foi jornalista na página cultural do Jornal Notícias (2016-2020) e um dos apresentadores do programa Conversas ao Meio Dia, docente de Jornalismo. Durante a formação foi monitor do Msc Isaías Fuel nas cadeiras de Jornalismo Especializado e Teorias da Comunicação. Na adolescência fez rádio, tendo sido apresentador do programa Mundo Sem Segredos, no Emissor Provincial da Rádio Moçambique de Inhambane. Fez um estágio na secção de cultura da RTP em Lisboa sob coordenação de Teresa Nicolau. Além de matérias jornalísticas, tem assinado crónicas, crítica literária, alguma dispersa de cinema e música. Escreve contos. Foi Gestor de Comunicação da Fundação Fernando Leite Couto. E actualmente, é Gestor Cultural do Centro Cultural Moçambicano-Alemão

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