As memórias do número 48632

Alegria de viver, amor a vida, júbilo por ter a família que tem. Quem vê Ella Blumenthal a sorrir não imagina o calvário que ela enfrentou. Seus olhos testemunharam os limites da brutalidade humana, actos macabros de que a humanidade até hoje se envergonha. Ela sobreviveu ao holocausto. O destino levou-lhe a África do Sul e neste país contou um pedaço da sua dolorosa história aos familiares e ao mundo, no documentário I’ AM HERE, de Jordy Sank.

Ella Blumenthal ficou mais de cinco anos cativa e tratada como animal. Viu sua família e pessoas próximas a morrerem, um a um. Sentiu o cheiro nauseabundo do inferno, ainda assim conseguiu inalar a esperança. “Baruch Hashem Ani Poh”, cuja tradução livre para português é “Graças a D’us estou aqui”, é a frase que guiou Ella depois de ver seu mundo ser consumido pelo ódio e carnificina de homens embebedados por uma ideologia que celebra, incentiva a violência e o genocídio de outros seres humanos.

O Nazismo foi derrubado, mas a história permanece, teima em não cicatrizar. E é isso que separa o documentário de Jordy dos outros sobre o Holocausto: o facto de contar a vida da personagem depois do drama. E depois do holocausto Ella viveu, passeios por Paris, se casou dois anos depois do caos, formou família e tentou arquivar as memórias tristes, apagou o número de reclusa. Mas do que isso, tornou-se um símbolo de esperança e nas redes sociais contagia quem a contacta.

Ella é uma sobrevivente, conseguiu ter uma vida depois do Holocausto. E o filme consegue retractar este lado alegre da vida dela. Até nos relatos tristes, o filme coloca elementos de esperança. Uma das opções é a ilustração animada do passado, ao envés de imagens e vídeos macabros. Um elemento a não ignorar é a borboleta azul, que reaviva a esperança. Outro elemento fílmico que não pode ser ignorado são as cores. O filme é alegre, tem tons coloridos. É uma ode de luz. Um dos momentos marcantes é o aniversário 98 anos de Ella, que mostra que ninguém está a actuar, é tudo real, são seres humanos. E a esperança humana ainda pode nos salvar.

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