Mia Couto homenageado no Festival de Poesia de Lisboa

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Mia Couto

O escritor moçambicano Mia Couto é o autor homenageado este ano no VI Festival de Poesia de Lisboa (FPL), que decorre entre 12 e 18 de Setembro de modo virtual, sob o mote da reconstrução do mundo pós-pandemia.

Poetas de seis países diferentes vão dialogar sobre o assunto Terra: Uma Poética de Nós, tema da edição deste ano do festival, que contará com a participação, além do escritor homenageado, de Boaventura de Sousa Santos, Heloísa Buarque de Hollanda, Luz Ribeiro, Ondjaki, Fado Bicha, TranSarau e Judite Canha Fernandes, entre outros, anunciou a organização.

A proposta para esta sexta edição é a de estabelecer um diálogo com as poéticas da terra e as suas narrativas históricas, através das vivências social, económica e política.

É nesse contexto que surge a escolha de Mia Couto como autor homenageado do Festival de Poesia de Lisboa (FPL). “Por sua obra, que dialoga com a relação do homem com a terra, tanto do ponto de vista histórico como biológico”, explicou Jannini Rosa, idealizadora e directora do festival.

A contribuição do escritor moçambicano para a Literatura Africana de Língua Portuguesa, prosseguiu Rosa, e a necessidade de o ocidente conhecer e debater a obra de um autor de outro país lusófono — que não seja Brasil ou Portugal – pesaram na decisão de o homenagear.

Jannini Rosa, idealizadora e directora do festival, destacou ainda a premissa subjacente a este evento de “sempre homenagear um autor vivo”.

Também a co-organizadora do FPL, Carla de Sà Morais, ressalta as “muitas lições de vida que dele provêm, o seu amor pela terra” e toda a alusão que a ela faz através dos seus poemas, e as causas que defende e apoia”, e que fazem de Mia Couto “o homenageado ideal”.

“Em várias das suas obras, ele recria a língua portuguesa sob influência moçambicana utilizando o vocabulário das diversas regiões do país”, assinalou Carla de Sà Morais, que é poetisa.

Entre os vários destaques da pro- gramação, o curador aponta uma mesa, em que Mia Couto participará com Boaventura de Sousa Santos, intitulada Pelas Epistemologias do Sul, bem como uma outra, realizada em parceria com o Instituto Camões e com o Centro Cultural Português em Brasília, intitulada Itinerários das Poetas do agora, com Heloísa Buarque de Holanda (Brasil), Judite Canha Fernandes (Portugal) e Enia Lipanga (Moçambique).

Desde a demarcação de terras para a expressão digna de povos originários, até aos movimentos urbanos de luta pelo direito à habitação, passando pela diáspora negra e de pessoas em situação de refúgio, e pelo espaço que um corpo não-normativo pode ocupar nos territórios, os debates visam a reconstrução de um mundo melhor e mais inclusivo.

O FPL é uma iniciativa criada em 2016, que tem como principal objectivo a valorização da língua portuguesa e o incentivo à leitura. Este ano, “a programação foi desenhada sob o tema Terra: Uma Poética de Nós e por isso minha abordagem foi a de aproximar territórios distantes para debates urgentes, em um mundo que quer se reconstruir pós-pandemia. Um mundo que precisa emergir com mulheres, LGBT, negros e negras, um mundo que precisa dar vez aos conhecimentos do hemisfério Sul”, armou o curador do festival, João Inneco.

Para além de várias mesas, o festival contará ainda com uma cerimónia de prémios, cujo primeiro lugar terá direito a um troféu de participação e à publicação de um livro de poesia, com lançamento na Festa Literária Internacional de Paraty de 2022. “Um espectáculo imperdível é o que assinamos em parceria com o Museu da Língua Portuguesa — Tran- Sarau convida Fado Bicha e André Tecedeiro —, que coloca em cena os discursos género-dissidentes, que também estão em disputa por voz e espaço nos territórios”, adiantou João Inneco. Lusa/Público.pt

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É licenciado em Jornalismo, pela ESJ. Tem interesse de pesquisa no campo das artes, identidade e cultura, tendo já publicado no país e em Portugal os artigos “Ingredientes do cocktail de uma revolução estética” e “José Craveirinha e o Renascimento Negro de Harlem”. É membro da plataforma Mbenga Artes e Reflexões, desde 2014, foi jornalista na página cultural do Jornal Notícias (2016-2020) e um dos apresentadores do programa Conversas ao Meio Dia, docente de Jornalismo. Durante a formação foi monitor do Msc Isaías Fuel nas cadeiras de Jornalismo Especializado e Teorias da Comunicação. Na adolescência fez rádio, tendo sido apresentador do programa Mundo Sem Segredos, no Emissor Provincial da Rádio Moçambique de Inhambane. Fez um estágio na secção de cultura da RTP em Lisboa sob coordenação de Teresa Nicolau. Além de matérias jornalísticas, tem assinado crónicas, crítica literária, alguma dispersa de cinema e música. Escreve contos. Foi Gestor de Comunicação da Fundação Fernando Leite Couto. E actualmente, é Gestor Cultural do Centro Cultural Moçambicano-Alemão

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