[Anos 90] Introdução de novas estéticas globais

Semanalmente, através do programa Conversa ao meio dia, produzido pela Plataforma Mbenga Artes e Reflexões e transmitida pela Rádio Cidade, contamos alguns episódios da História das Artes Plásticas moçambicanas, na rubrica Restauro.

Concebemos este espaço no nosso portal para a partilha, em forma escrita, do conteúdo breve, transmitido na rubrica supracitada.

Chegados aos anos 90, o mundo já é outro. Há um fim à vista para guerra civil, o projecto soviético já faliu, o país cria uma nova Constituição da República que abre espaço para a democracia. Está à vista a reconciliação no país e o início de uma nova era.

Em 1992, a RENAMO e a FRELIMO assinam o Acordo Geral de Paz, a vizinha África do Sul realiza uma série de encontros para desmantelar o Apartheid e a luz no fundo do túnel vai ocupando mais espaço, o túnel vai ficando menos escuro.

Feita por seres sociais integrados nessa sociedade, os artistas e as artes igualmente foram tocados por essa nova circunstância de uma nova realidade social e política, aliás Moçambique realiza as primeiras eleições em 1994. Os anos 90 simbolizam a esperança, é como a imagem bíblica de Naamã a sair do rio Jordão, curado da lepra.

Naturalmente, foram anos de entusiasmo apesar da escassez de recursos, acesso a materiais de arte, publicações especializadas, plataformas de visibilidade, internacionalização – obra que já se tinha conquistado com a colaboração e realização de exposições de artistas moçambicanos com e nos países das Repúblicas Soviéticas -, entre outras questões permaneceram.

A museóloga Alda Costa, no livro Arte e Artistas em Moçambique Diferentes Gerações e Modernidades, observa que é nesta altura que a região ensaia uma intensa interação entre os artistas plásticos. Nesse contexto, alguns artistas moçambicanos tiveram o privilégio de participar de exposições na região e nas “cidades globais” em datas especiais de alguma celebração ou em mostras que pretendiam mostrar o que estava a ser produzido na África Austral.

Em 1991, por iniciativa de Fátima Fernandes, Maputo acolhe o primeiro workshop internacional de artes plásticas, inaugurando a série que depois passa a incluir o UJAMMA em Pemba, entre outros.

Os workshops introduziram novas técnicas, materiais e reflexões que estimularam outra percepção e sentido de manipulação (ou significação) de imaginários por parte dos participantes. Por exemplo, o primeiro que se realizou em Maputo, propunha-se a colocar Moçambique na tendência global sobretudo e indicar caminhos para o país sair do isolamento regional, familiarizar-se com novas estéticas. Era uma preocupação no sentido de derrubar ou contornar, entre outros, o preconceito da arte exótica por ser africana – um vício que também fez-se sentir na literatura.

Seguiram-se outros workshops que a museóloga Alda Costa afirma terem desempenhado um papel importante no update de artistas moçambicanos. Esta série era inspirada no modelo Triangle Art Workshop (uma organização internacional de artes que reúne artistas de diferentes países para explorar novas ideias e expandir os limites de sua prática).

Alguns artistas tiveram a oportunidade de participar em oficinas internacionais que aconteceram na Região e no continente na expectativa de estimular a criação de novas linguagens, técnicas e temáticas.

A presença nesses espaços projectou artistas como Dias Mahlate que expôs na Galeria Nacional do Botswana em Gaberone em resultado do workshop Thapong realizado em 1995. No mesmo ano, narra Costa, Alberto Chissano, Reinata Sadimba, Titos Mabota e Malangatana para além dos curadores Gilberto Cossa e Cidália Chissano foram selecionados para a I Bienal de Joanesburgo para alguns eventos do Africa’95, realizado em Londres. Esses eventos deram visibilidade e possibilidade de circulação desses e outros nacionais nos circuitos contemporâneos de arte africana.

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