Um alento: Mafalala no Top da norte-americana TripAdvisor 2020

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Enquanto questiona-se, preocupado, sobre como pagar salários aos colaboradores com tudo parado por causa da pandemia, o smartphone do Ivan Laranjeira vibrou com uma notificação inesperada: Mafalala Walking Tour vence o prémio “Travelers’ Choice” 2020 do TripAdvisor, na categoria de Excursões e Caminhadas.

“Mafalala Walking Tour (visita guiada) é reconhecido como o vencedor do prémio “Travelers’ Choice” para 2020”, leu Ivan Laranjeira, ainda a absorver a informação. Sem repousar o telemóvel, prosseguiu: “Este prémio é atribuído com base no somatório de um ano de comentários de viajantes no TripAdvisor”.

O facto estava consumado, a maior rede social para a divulgação do turismo no mundo reconhecia, de forma espontânea, o trabalho que vem sendo desenvolvido pela Associação IVERCA, da qual o Ivan é presidente, há 10 anos.

“É sempre bom termos boas notícias e sabermos que o trabalho, o empenho e esforço está a ser reconhecido por aqueles a quem estamos a servir”, assumiu ontem, horas depois de saber da proeza, em conversa com o “Mbenga”, através do Whatsapp.

Este prémio, afirmou, é resultado da interação com os viajantes, turistas que realizam o Walking Tour, que consiste na experiência de percorrer a Mafalala, um bairro histórico da periferia da cidade de Maputo, a visitar locais onde residiram alguns protagonistas da edificação do país.

Fotografia de Mário Cumbana

Só para citar alguns exemplos, guiados pelo próprio Ivan Laranjeira ou Samuel Rodrigues Chembene – entre outros guias -, os turistas são levados a conhecer as casas onde moraram figuras como Samora Machel, Noémia de Sousa, Fany Mpfumo, o primeiro campo onde Eusébio praticou futebol…

O Walking Tour, para além de ser uma visita a algumas páginas da História, é igualmente a possibilidade de experienciar (no sentido antropológico) as vivências das várias culturas que coabitam a Mafalala, com particular destaque para as etnias Emakua – vinda, maioritariamente, da Ilha de Moçambique – praticante do Tufu e XiRonga, nativos.

Sem encenações, o bairro é apresentado tal qual é, as mamanas a vender pão com badjias, djalibo, ti-fiosse, os becos estreitos de zinco enferrujado, as casas de madeira e zinco, o mau saneamento. A Mafalala natural, onde o visitante observa sem alterar as rotinas do quotidiano dos seus residentes.   

A premiação, reconheceu Ivan Laranjeira, que é ainda director do Museu Mafalala (projecto que sintetiza o trabalho da IVERCA ao longo de uma década), coloca desafios em relação ao futuro, considerando o facto do mundo estar a atravessar uma pandemia.

“O esforço anterior vai ter que ser redobrado, não vai ser fácil”, disse-nos Laranjeira, a olhar para a dificuldade que será, quando tudo isto acabar, o contacto com o turista e recuperar a confiança para fazer as actividades.

Fotografia de Mário Cumbana

“Começamos a nos ressentir da falta de turistas ainda em Janeiro do ano passado, mas foi a partir de Março que deixamos de os poder receber”, disse o presidente da IVERCA, antes de assumir que “é um alento ter sido por escolha dos visitantes”.

Os vencedores deste prémio caracterizam-se por receber de forma consistente e regular excelente feedback dos viajantes, colocando-os entre os melhores da hotelaria e turismo no mundo.

A rede social Tripadvisor é a maior plataforma de viagens do mundo, ajuda 463 milhões de viajantes por mês a fazerem das suas viagens as melhores viagens.

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É licenciado em Jornalismo, pela ESJ. Tem interesse de pesquisa no campo das artes, identidade e cultura, tendo já publicado no país e em Portugal os artigos “Ingredientes do cocktail de uma revolução estética” e “José Craveirinha e o Renascimento Negro de Harlem”. É membro da plataforma Mbenga Artes e Reflexões, desde 2014, foi jornalista na página cultural do Jornal Notícias (2016-2020) e um dos apresentadores do programa Conversas ao Meio Dia, docente de Jornalismo. Durante a formação foi monitor do Msc Isaías Fuel nas cadeiras de Jornalismo Especializado e Teorias da Comunicação. Na adolescência fez rádio, tendo sido apresentador do programa Mundo Sem Segredos, no Emissor Provincial da Rádio Moçambique de Inhambane. Fez um estágio na secção de cultura da RTP em Lisboa sob coordenação de Teresa Nicolau. Além de matérias jornalísticas, tem assinado crónicas, crítica literária, alguma dispersa de cinema e música. Escreve contos. Foi Gestor de Comunicação da Fundação Fernando Leite Couto. E actualmente, é Gestor Cultural do Centro Cultural Moçambicano-Alemão

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