Nomes santos

Por: Pedro Pereira Lopes

Quando eu tinha 11 anos, fui morar para a casa do meu pai e da sua nova esposa, portanto, minha madrasta. Ela era simpática e tinha-me como o filho que ela não tinha.

A esposa do meu pai tinha um modesto restaurante, uma pequena barraca no mercado municipal, e quando ela não estivesse a trabalhar, estava na igreja, um grupo protestante de origem brasileira. A sua fé era profunda, e eu, pequeno e influenciável, comecei também a sonhar com o novo deus.

Em dois meses, eu fazia sermões na escolinha bíblica e tinha o apelido de pequeno obreiro. Depois de outros dois meses, após muita insistência, juntei-me ao grupo coral infantil da igreja. Eu não levava jeito para a música e estava a entrar na idade em que eu não gostava da minha voz. Os ensaios eram às terças e quintas. Durante a missa de domingo, o coral apresentava-se.

A minha estreia aconteceu num domingo de chuva, logo, uma bênção. O instrumentalista tinha escolhido duas canções e, numa delas, eu fazia um solo de rap. Seguida a apresentação e as palmas fortíssimas dos crentes, o pastor pediu-nos para que disséssemos os nossos nomes. Eu prendi a respiração. Nunca tinha previsto o instante que se seguiria. Fui o último.

Pedro João dos Santos… mal disse o nome completo e o pastor já bradava:

Pedro João dos Santos…, repetiu o homem. Todos os nomes santos! Isso sim é uma bênção. Ámen, gente de Deus?

Eu fiquei cheio de vergonha.

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