Por: Pedro Pereira Lopes
A mulher estava de férias na Argentina. Tinha visitado museus e bibliotecas e comprado, em várias livrarias, uma boa quantidade de livros em espanhol que jamais leria. Era quase tudo para oferecer. Frequentou também cafés e bares.
Num domingo, depois de um rodízio de cervejas, na noite anterior, acordou com remorsos e a cabeça a imitar uma britadeira. Mal conseguia fincar pé. A custo, foi à farmácia:
My head hurts, disse em inglês, a única língua que conhecia a seguir ao português. E dizia isso abanando a cabeça, palpando a testa com os dez dedos em leque, impaciente, aflitíssima. It hurts! Headache!
A farmacêutica parecia entender quase nada. Tentou algumas palavras, mas não teve sucesso, e ficou também muito ansiosa pois a sua tarefa era vender (e não quereria deixar passar aquela que seria a sua primeira venda do dia).
Cabeça, gritou, numa iluminação súbita.
Sim! Sim, gritou a mulher que estava de férias, chocalhando outra vez a cabeça.
A farmacêutica sorriu:
Shampoo?
