Ler na eternidade

Por: Pedro Pereira Lopes

Havia um homem que, durante os seus dias de sopro, fez fortuna de Salomão. Sábio que era, acumulou ainda muita arte, telas de fino primor, esculturas em bronze e as primeiras edições dos clássicos da literatura universal.

Num dia qualquer, o bom homem teve um enfarto do miocárdio e caiu duro, estilhaçando-se em tantos mil pedaços a porcelana persa que ele segurava com piedade entre os dedos.

No dia seguinte, o testamenteiro quebrou o selo do documento: os bens seriam distribuídos por igual pelos seus seis filhos, desde que a sua última vontade, impreterível, fosse respeitada.

Estava assim escrito, com caligrafia tremida: Quando eu morrer, meu caixão deverá levar também livros. Eternidade é tempo demasiado, para se estar somente a sofrer.

Sem saber que livros juntar ao caixão decidiram-se pelas obras completas do presidente chinês Mao Tse Tung e pela bíblia.

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