Revolução Cultura é um convite à introspecção

Na década 90, a cultura Hip Hop tomou a juventude urbana de Maputo, talvez, em parte, a reinventar o Xithokozelo ou Tchopo – dos Xichope -, que consistem em improvisos em rodas, ao ritmo de palmas, o freestyle, uma das componentes do Rap. Este movimento, por sua vez, apropripou-se deste género como instrumento de interversão social através do qual emite opiniões sobre a sociedade que almeja, tal qual os poemas “SIA-VUMA”, “Let my people go” ou “Surge et Ambula”, de José Craveirninha, Noémia de Sousa e Rui de Noronha, respectivamente.

O rapper Kloro Malele surge neste contexto, influenciado pelo irmão mais velho Hélder Leonel a.k.a. Dj Malele, um dos radialistas mais importantes (senão o mais) da cena Hip Hop moçambicana, que conduz o programa Clássico Hip Hop Time.

Depois de acompanhar, desinteressadamente, o surgimento do primeiro grupo de Rap no país, Rappers Unit, cujo um dos fundadores é o seu irmão, em 1997, Kloro foi convidado a fazer um freestyle na Rádio Cidade, que teve uma repercussão surpreendente.

A história foi sendo escrita em versos “cuspidos” A caminho do Txova (2011), mixtape que gravou com a Trio Fam nos tempos da Track Records, somando-se aos singles que se tornaram hits, como J´yeah, J´yeah, Continência ou Randza.

Quando, a solo, trouxe à superficie o álbum Xigumandzene, uma nova era anunciava-se. Era um Kloro mais maduro, a traduzir nas barras a sua preocupação com a forma como a juventude encara a realidade e lida com a vida. 

Se pensarmos que a cultura é um conceito cuja infraestrutura tem na forma de pensar um dos seus pilares, então encontramos o fundamento do título deste segundo álbum, Revolução Cultural, pois, este é um convite a cada um mudar a forma de ver e estar no mundo.

Como o autor disse na entrevista ao “Mbenga”, a sua música é de “intervenção pessoal”, o que se pode atestar, por exemplo, na faixa 3, “Liberta-te”. Entre os versos da primeira estrofe apela: “o medo (…) é a última raiz do fracasso”, num apelo a emancipação individual para a materialização dos sonhos.

“Penso que se o rap não for essa cena, que é para transformar a vida das pessoas, então estamos a perder tempo”, disse na referida entrevista.

Kloro elaborou um puzzle métrico para propor a construção de outras realidades tendo como objecto o sujeito na sua individualidade. E nesse processo o rapper não ignora a história, o facto de estar a continuar um caminho começado por outros há décadas.

Na música 10, uma colaboração com Roberto Chitsondzo e Assa Matusse, uma das vozes femeninas mais relevantes da actualidade, recria “Tlhanga” cujo original integra o álbum Vana-Va-Ndota uma das bandas mais simbólicas do país, Ghorwane, da qual o Chitsondzo é o principal vocalista.

“Revolução Cultural”, faixa 11, que dá título ao álbum é um convite para juntar-se ao movimento que a cidade de Maputo vive nos últimos quatro anos, de efervescência artística. É uma abordagem que convida a resistência e a persistência, sempre crente no poder da música, da arte e da cultura, de modo geral.

A ilustração da capa com uma máscara Makonde tem justamente o próposito de invocar a individualidade e a espiritualidade do sujeito que Kloro convida a olhar-se no espelho para avaliar o que tem feito desta oportunidade singualar a que chamamos vida. Quer, igualmente, convidar a reflectir sobre o quanto conhecemos a nossa cultura e o que fazemos dela.

Por tabela, a ilustação da capa conduz para a preocupação do dia em relação a indiferença da maioria em relação ao que se vive em Cabo Delgado, dizendo: somos todos Moçambique.

Revolução Cultural é uma mistura na qual encontramos vestígios de disco e do funk, traços de R&B, entre outros ritimos, é musical e rap. Colaboram neste projecto os R&B singeres Hot Blaze, Guto D’Arculete, Walter “Teknik” Nascimento (que é iguamente rapper), da eclética Regina dos Santos (vocalista dos Gran Mah), Roberto Chitsondzo (vocalista dos Ghorwane), Walter e Assa Matusse. O álbum foi produzido por Ell Puto.

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