A menina que tinha uma lágrima na bochecha

Por: Pedro Pereira Lopes

Kayoka não chorava. Tinha nascido assim. Com dois olhos grandes, negros e magnéticos, olhava-se uma vez e ficava-se absorto neles. A menina não chorava, os pais tinham-na levado ao oftalmologista e os seus olhos eram perfeitos. Que diagnóstico, uma decepção!

A administração da cidade declarou-a um problema de saúde pública. Chorar era o mais próximo de existir. Os psicólogos fizeram os experimentos que conheciam, mas Kayoka não ficava tão triste ao ponto de chover os olhos. Desistiram depois de algum tempo, quando a administração cortou os recursos. 

Tempos depois, a menina cresceu um pouco. No dia em que a sua amiga imaginária lhe morreu nos braços, Kayoka ficou muito triste e saiu-lhe uma lágrima do tamanho de uma larva de borboleta. Uma apenas, e a lágrima, teimosa, ficou-se-lhe colada na bochecha esquerda, mesmo debaixo do olho, sem querer voar. Era um pequeno diamante.

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