Butcheca continua as pinturas em série no “Cerco”

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Pinturas em série temática, de Butcheca, cujos desenhos se parecem, diferenciando-se discretamente nalguns traços e formas, como se estivesse à procura da obra perfeita, integram a exposição “Cerco”, em exibição na Fundação Fernando Leite Couto (FFLC), em Maputo.

Em telas de vidro acrílico, o artista plástico repete a forma do objecto, proposta que o artista igualmente apresentou no Centro Cultural Franco-Moçambicano e na galeria da Associação Kulungwana, na baixa da capital do país.

Uma cabeça com chifres, que pode ser de um touro ou de um boi, multiplica-se com os desenhos feitos com tinta acrílica em molduras de pequenas dimensões, na parede frontal para a entrada na galeria da FFLC.

Aberta até dia 29, a mostra foi inaugurada no dia cinco deste mês. Há, igualmente na galeria, pinturas de grande dimensão com formas que revelam ironias revestidas de humor.

A exposição é diversa

Ao entrar para o “Cerco”, tendo visto cartaz escuro e um touro ou de um boi no centro, uma das perguntas que pode ocorrer é: “quais são as fronteiras?” Mas Butcheca dispersa ainda mais a resposta, com as pinturas “entrada” e “saída”, nas quais vê-se homens.

Entre as leituras possíveis, uma sugere que nesta exposição pretende-se retratar, denunciar ou mesmo espevitar uma sociedade que simplesmente segue acrítica nos pontos e na direção traçada pelos seus pastores, apenas por que há garantia de alimento e água.

A hipótese acima referida reforça-se quando noutras pinturas em que os Homens aparecem o estão em situações de conflito pelo supérfluo ou do isolamento, na fuga de padrões sociais que reprimem a essência, a singularidade de um sujeito.

“Cerco” ainda podia ser sobre a pandemia, sobre as fronteiras encerradas, sobre a impossibilidade de ir para além do estabelecido.

Jaime Lima, que assina o texto de apresentação da exposição, adverte que “é um espaço de assedio que vai se estreitando para se colher a presa no meio”.

O escriba sugere cautela na absorção dos sentidos que a mostra toma, pois há armadilhas nos (en)cantos da sereia. Nem tudo é o que parece.

Butcheca é o nome artístico de Moisés Ernesto Matsinhe Mafuiane, nascido a 23 de Abril de 1978, em Maputo, Moçambique. Artista autodidata começou a dedicar-se à Pintura no início dos anos 90, tornando-se, em 1997, membro do Núcleo de Arte.

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É licenciado em Jornalismo, pela ESJ. Tem interesse de pesquisa no campo das artes, identidade e cultura, tendo já publicado no país e em Portugal os artigos “Ingredientes do cocktail de uma revolução estética” e “José Craveirinha e o Renascimento Negro de Harlem”. É membro da plataforma Mbenga Artes e Reflexões, desde 2014, foi jornalista na página cultural do Jornal Notícias (2016-2020) e um dos apresentadores do programa Conversas ao Meio Dia, docente de Jornalismo. Durante a formação foi monitor do Msc Isaías Fuel nas cadeiras de Jornalismo Especializado e Teorias da Comunicação. Na adolescência fez rádio, tendo sido apresentador do programa Mundo Sem Segredos, no Emissor Provincial da Rádio Moçambique de Inhambane. Fez um estágio na secção de cultura da RTP em Lisboa sob coordenação de Teresa Nicolau. Além de matérias jornalísticas, tem assinado crónicas, crítica literária, alguma dispersa de cinema e música. Escreve contos. Foi Gestor de Comunicação da Fundação Fernando Leite Couto. E actualmente, é Gestor Cultural do Centro Cultural Moçambicano-Alemão

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