Recuperei o brilho próprio

Escrito por Emanuel Banze

Mais uma vez, o mundo pegou velas. É sempre assim, quando o sol e a lua se encontram: beijam-se diante de todos os olhares (i)racionais, sem pudor e vergonha. Depois de um dia inteiro de distância, o escuro da noite penetra na luz do dia, fecundam-se com nostalgia e fazem nascer estrelas no céu. Estrelas que brilham, mesmo sem luz própria, movem-se, mudam de lugar num piscar de olhos e permitem-nos expor desejos que nunca são cumpridos. Por vezes, as estrelas brigam entre si, as mais fracas caem sobre nós e jamais retornam ao seu posto. As outras, mais fortes, conquistam terreno no infinito espaço que existe sobre as nuvens. É este o raciocínio que me ocorreu um dia depois de recuperar o sentido de viver. Antes, eu me via como um corpo insignificante. Uma esfera sem luz, em meio ao brilho das estrelas que me rodeiam. Tudo a minha volta fazia sentido, menos eu.

Nesta terra, eu só pegava velas do sol e a lua. Às vezes, também as dos meus irmãos. A minha luz nunca se apagou, porque nunca existiu. Nunca existiu porque eu nunca a acendi e ninguém pôde fazer isso por mim. Tentei por algumas vezes, mas eu mesmo me venci e desisti. Por isso, conclui que eu sou o meu maior entrave e perdi completamente o sentido da vida, enterrei os meus sentimentos por qualquer ser, começando por mim, me aprisionei nas masmorras da minha mente, encarcerado pelos meus fracassos, respirando insultos que só me destroem os pulmões, poluídos pelo fumo negro das incertezas. A minha cela não era solitária, a inveja sempre me acompanhou. Ela sempre esteve comigo, a cada vez que eu via uma nova luz nascer na vida de alguém. A minha amiga inveja sempre me aconselhou a apagar, ainda que fosse a sopro, as luzes que se formavam diante de mim. Para ela, eu devia ser alguém diferente, conhecido por não ter feito nada, ou quando muito, por ser um exterminador de trajectórias. Claro, eu concordava, queria ser a estrela forte, aquela que faz as mais fracas caírem por terra, para nunca mais ascenderem.  

Demorei, senti na pele as consequências, mas parei de andar com a inveja quando descobrí que ela própria apresentava comportamentos de estrela. Era, mesmo, a mais fraca entre todas elas. Em todas as brigas em que se envolveu, só perdeu. Nem ela venceu o seu próprio combate, muito menos consegue encarrar o seu maior inimigo, o sucesso. Sempre que este se aproxima, ela se esconde numa gaveta do cérebro e, de lá, continua a actuar sem efeito algum.  

A inveja e o sucesso são duas cargas opostas que não se atraem, não se querem ver por nada. Uma engole a outra, como o escuro da noite faz a luz do sol e vice-versa. O sucesso é complicado, confuso, mas sempre segue o seu propósito (o de aumentar a carga eléctrica nas outras luzes) e nunca anda sozinho. Este não prende. Muito pelo contrário, liberta e devolve a doce vontade de viver rodeada de estrelas que brilham.

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