Haverá explosão de novas estéticas no pós-Covid-19

NOVAS estéticas poderão emergir em várias disciplinas artísticas em reacção a pandemia da Covid-19, que obrigou o mundo a optar pelo isolamento social, condicionando, sobremaneira, o consumo das artes, principalmente as performativas.

O saxofonista moçambicano Moreira Chonguiça fez esta previsão numa conversa telefónica, na qual falava sobre este momento singular que a humanidade atravessa.

“A explosão criativa vai acontecer depois da crise”, disse, referindo que nos dias que correm “vive-se um dia de cada vez e tensos”. Mas, “assim que houver uma solução, vários artistas vão revelar trabalhos fenomenais”, acredita.

O isolamento social que parte do mundo está a viver obriga as pessoas a passarem mais tempo com as famílias, a conversar, hábitos que com a correria e obrigações laborais foram-se perdendo.

Continuou referindo que nesse contexto, reformulam-se valores a volta do lugar de pertença dos indivíduos, questões relacionadas com a identidade e a importância da família enquanto último reduto de um sujeito.  

O ambiente gerado por essa convivência que aproxima o homem ainda mais da sua humanidade, entende Moreira Chonguiça, acrescidos as reflexões e introspecções nestas circunstâncias servirão de matéria-prima para a criação de novas linguagens artísticas.

Uma chamada de atenção: “cada artista tem a sua maneira de criar, não precisamos de Corona para isso”.

“ [Por exemplo] eu sempre sei em que momento criar…entre as minhas referências, há pessoas que criam no barulho”, esclareceu Moreira Chonguiça, explicando que nem todos artistas precisam do silêncio no seu labor.

Ainda sobre o seu processo de composição, o saxofonista revelou que antes de sentar-se ao piano (numa entrevista, assumiu que a sua primeira paixão era o piano) para dar “vida” a música reflecte e conecta-se espiritualmente. É depois de ouvir a peça no seu interior que a exterioriza.

Ainda não temos estrutura para o streaming

Com a eclosão da Covid-19 e o consequente encerramento de centros culturais, galerias, museus e outras casas desta natureza, o caminho que se seguiu foi das exibições live, nas redes sociais.

Vários músicos, como o beatmaker Nandele, Stewart Sukuma, tem estado a exibir-se nas suas contas do Facebook, Instragam, entre outros.

Moreira Chonguiça, a comentar que com o facto desta pandemia ter surgido no pico da tecnologia da informação amplia-se ainda mais o seu impacto psíquico e social.

A arte, sendo ela individual com o fim de partilha, serve de alento para a humanidade e apropria-se das possibilidades tecnológicas. “Há artistas que já podem vender na internet mas há uma larga maioria que não podem, ainda”, observou.

O país, prossegue o etnomusicólogo, não possui uma estrutura preparada para fazer o negócio de streaming, que possibilitaria a estes músicos continuarem a ter o seu rendimento pecuniário.

“Haverá um boom de produtos não certificados, músicas que não farão renda”, disse Moreira Chonguiça, referindo que as já poucas empresas que patrocinavam o sector estão a ser afectadas, o que significa que dias sombrios ainda esperam esta classe.

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