Na Liberdade…

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De quanta terra precisa um Homem?”, nos questionou Tolstoi. O homem ganancioso, “inventado” pelo escritor russo, morre de tanto buscar mais pelo mundo.
A avenida da Liberdade foi palco das conversas de todo aquele Boss com o Hugo, cheirando givenchy, aguardando, impacientes, a chegada da Gucci, que vinha num Ferrari do Louis Vuitton.
O petróleo daquela paragem do Atlântico transbordava em moedas de ouro e diamante na velha Lisboa. Tal sorte desta cidade, que recebia outros “Gulbenkian”, cuja arte legada são esses retratos acompanhados de letras garrafais que o público vê expresso no diários de notícias.
O que Tolstoi, cristão devoto que era, acharia desses santos? Talvez os admirasse: aristocratas que abdicavam de tanto por meros tecidos, jóias de mera ocasião, nalgumas circunstâncias, desde que assinados por humildes Homens a serviço de uma pequena cleptocracia. O que acharia Tolstoi desses vícios palacianos?
E a cidade prossegue, gélida, solitária com o sol hesitante de Fevereiro. Nem tempo há-de agir com hipocrisia quando, nas escadas do prédio, o vizinho sequer te cumprimenta. Se bem que começa antes, o teu vizinho de quarto nem o teu nome sabe (e tu sabes o dele?).
Um café longo, um cigarro, António Zambujo e Charles Baudelaire sussurram os meus sentidos entorpecidos pelo nevoeiro que cobre uma parte da urbe, ali a beira-Tejo.

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É licenciado em Jornalismo, pela ESJ. Tem interesse de pesquisa no campo das artes, identidade e cultura, tendo já publicado no país e em Portugal os artigos “Ingredientes do cocktail de uma revolução estética” e “José Craveirinha e o Renascimento Negro de Harlem”. É membro da plataforma Mbenga Artes e Reflexões, desde 2014, foi jornalista na página cultural do Jornal Notícias (2016-2020) e um dos apresentadores do programa Conversas ao Meio Dia, docente de Jornalismo. Durante a formação foi monitor do Msc Isaías Fuel nas cadeiras de Jornalismo Especializado e Teorias da Comunicação. Na adolescência fez rádio, tendo sido apresentador do programa Mundo Sem Segredos, no Emissor Provincial da Rádio Moçambique de Inhambane. Fez um estágio na secção de cultura da RTP em Lisboa sob coordenação de Teresa Nicolau. Além de matérias jornalísticas, tem assinado crónicas, crítica literária, alguma dispersa de cinema e música. Escreve contos. Foi Gestor de Comunicação da Fundação Fernando Leite Couto. E actualmente, é Gestor Cultural do Centro Cultural Moçambicano-Alemão

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