Poemas de Samuel da Costa

Textos de Samuel da Costa

Poesia na árvore
Em memória de Raquel da Costa e Isabel Cristina da Costa

Eu prefiro frases feitas…
Adoro lê-las…
E pensar que elas são minhas!

Dizer: – Vou te amar para todo o sempre!
Usando velhos clichés.

Finjo ser poeta!
Às vezes até contista…
Nessas horas uso antigos clichés.
Porque dizer: – Eu te amo!
Não é dizer bom dia.

Escuto velhas músicas!
E chego a pensar que a dor.
É realmente minha.
Mas não é!!!

Às vezes…
Penso em ser prosador!
Para voltar para a minha infância!
Onde corro de novo.
Entre becos e vielas…
De braços bem abertos!

Mas volta para o tempo presente…
Mais-que-perfeito!
Onde finjo ser o aedo…
Na pós-modernidade líquida!
A ignorar regras, rimas e métricas…
E desdenhar de antigas elegias!
Todas as fórmulas arcaicas…
Prontas e acabadas.
Desusadas formas de amar musas,
Virgens intocadas e santas vaporosas…

Às vezes….
Finjo ser eu o versejador!
Nos tempos pós-modernos!
E em meus versos!
Sinto que não fostes embora…
Estás perdida entre os meus versos…
Mais profanos…
No estro meu…
Às vezes finjo que não te perdi,
Para todo o sempre!

Às vezes leio antigas poesias.
Mas somente às vezes!
E penso que são meus…
Aqueles idílios de saudade…

Nessa hora eu gostaria…
De ser um poeta de verdade.
Para pensar que não a perdi!
Para todo o sempre…

Imortalizar-te-ia…
Minha sacrossanta musa,
Em meus versos mais profanos!

Às vezes…
Penso ser eu o poeta!
Na pós-modernidade liquefeita.
A usar velhos clichés!
Para poder ousar dizer:
–Te amo, não é bom dia!

Desenho de Joaneth

Black Bird made in U.S.A.

O voo livre do pássaro…
De metal!
São penas sintéticas…
Abstratas!
A Iludir as massas…
E o canto pré-gravado!
E sampleado
Que soa falso e adulterado!

E mais que de repente!
O sonho de um mundo melhor.
É sepultado!
São aviões não-tripulados!
São voos mortais…
A fazer vítimas inocentes!
Pelo mundo pobre afora…

Ei senhor Robert Bales!
Quem atirou e matou…
Os meus sonhos?
O meu sonho de liberdade…
De um mundo melhor!

São penas surreais.
Inexatas!
São voos vazios,
São voos não-tripulados!
A fazer vítimas invisíveis…
Impossíveis!

Quem tripula os drones?
No jogo mortal…
Que ninguém vê!

É o livre bater…
Das mortíferas asas…
Do pássaro de metal!
E não-tripulado…
Voo homicida.

É na mira!
Do senhor Robert Bales.
Mira impossível…
E absurda.
Que dispara e mata!
Que ninguém condena,

É o mundo civilizado…
Que não condena.
O senhor Robert Bales.
Que dispara e mata!

Desenho de Joaneth

Agnela em anunciação

Escolho o pecado!
Encolho-me!
Fujo! Traio!
Minto para mim mesma!

Agora…
Já não sei mais quem realmente sou.
Aonde vou!
Se estou realmente viva!
Pelo menos penso que estou;
Que existo lânguida,
A vagar em uma outra…
Dimensão.

Tento fugir de mim mesma!
Escolho o pecado.
Afronto!
Magoo!
Quem me ama.

Escondo-me!
De tudo e de todos.
Na agonia de ser eu mesma…
Minto para mim!

Escondo-me…
Na sibilina bruma!
No outono da minha vida.
No outono dos decadentistas…

Contemplo o arrebol…
Em total êxtase!
Escuto a sinfonia idílica e ignota…
Ouço o madrigal ao longe.

Lembro-me de quem se foi…
E choro de saudades.

Escondo-me!
No meu mítico passado!
Finjo estar em outro lugar…
Finjo que me importo…
Com as outras pessoas!
Com alguém que diz amar-me.

Aprisiono-me!
Em um mundo encantado,
um multi-verso quimérico!
Que construí somente para mim!
Minto para mim mesma.
Na esperança vã…
De me encontra comigo mesma!

***

Samuel da Costa é natural de Itajaí, estado de Santa Catarina, sul do Brasil. É funcionário público municipal de Itajaí, estudou na escola básica Aníbal César, e na escola estadual professor Henrique da Silva Fontes. Concluiu o ensino médio na escola Integração, cursou a faculdade de Publicidade e Propaganda na Univale de Itajaí e se formou em Letras na Uniasselvi de Balneário Camboriú. Membro da Academia de Letras do Brasil de Santa Catarina e é membro setorial de Literatura do conselho de cultura de Itajaí. Militante do movimento negro e sindical. Livros lançados: Horizonte vermelho( versos), Uma flor chamada margarida (versos e prosa) e Século XX( contos e novelas e Solaris lV ( versos).

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