Mia Couto: Chico Buarque pediu-me para não pressionar Bolsonaro

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O ESCRITOR e músico brasileiro Chico Buarque, vencedor do Prémio Camões 2019, pediu a Mia Couto para não avançar com a Declaração Conjunta dos anteriores laureados contra o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que se recusou a assinar o Diploma do galardão.

O escritor moçambicano, igualmente premiado com “Camões” em 2013, tinha prometido, no princípio do mês, juntar outros vencedores do mais prestigiado galardão da literatura lusófona para pressionarem Jair Bolsonaro a assinar a declaração de mérito de Buarque.

Na altura declarou que o objectivo era criar um bloco para manifestar a indignação pela declaração de Bolsonaro, de que só assinaria o Diploma referente ao prémio, no dia 31 de Dezembro de 2026, data que remete para o final de um segundo mandato presidencial, caso fosse reeleito em 2022. 

“O Chico Buarque, quando soube, comunicou-me a pedir que não o fizesse”, conta Mia Couto, que citando o autor de “Construção” disse: “Não quero que ele assine, não vamos insistir porque se ele assinar vai desvalorizar o prémio”.

A intenção, prosseguiu, era não calar-se a uma atitude que define como idiota por parte daquele estadista.

Com efeito, esta reacção do escritor brasileiro reforça a primeira declaração pública que fez ao saber da posição do presidente do seu país. “A não assinatura do Bolsonaro no diploma é para mim um segundo prémio Camões”, escreveu num post no seu perfil da rede social Instagram.

Jair Bolsonaro e Chico Buarque

Entretanto, Mia Couto disse que está a circular um abaixo-assinado, iniciado por escritores brasileiros e que já conta com cerca de 35 mil, incluindo cultores das artes e letras de toda a lusofonia.

“É uma opção mais feliz”, disse o escritor moçambicano, a explicar que este documento será encaminhado à comissão do “Camões” para cobrir a não assinatura do presidente brasileiro.

Mia Couto afirmou ainda que Chico Buarque valoriza o Prémio Camões devido a sua importância e reputação como criador.

Em 2010, o escritor moçambicano colaborou numa publicação em homenagem as músicas do brasileiro com o conto intitulado “Olhos nus”, nascida da obra Olhos nos olhos, composição do Camões 2019.

A 31.ª edição do prémio dá ao vencedor 100 mil euros. O valor é dividido entre Brasil e Portugal, e a parcela brasileira já foi paga.

O anúncio do vencedor foi feito no dia 21 de Maio na sede da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, pela presidente da instituição, Helena Severo.

Instituído em 1988, o Prémio Camões de Literatura tem o objectivo de reconhecer um autor de língua portuguesa que tenha “contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural” do idioma através de seu conjunto da obra.

José Craveirinha, poeta-mor moçambicano, em 1991, tornou-se o primeiro autor africano galardoado com o Prémio Camões.

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É licenciado em Jornalismo, pela ESJ. Tem interesse de pesquisa no campo das artes, identidade e cultura, tendo já publicado no país e em Portugal os artigos “Ingredientes do cocktail de uma revolução estética” e “José Craveirinha e o Renascimento Negro de Harlem”. É membro da plataforma Mbenga Artes e Reflexões, desde 2014, foi jornalista na página cultural do Jornal Notícias (2016-2020) e um dos apresentadores do programa Conversas ao Meio Dia, docente de Jornalismo. Durante a formação foi monitor do Msc Isaías Fuel nas cadeiras de Jornalismo Especializado e Teorias da Comunicação. Na adolescência fez rádio, tendo sido apresentador do programa Mundo Sem Segredos, no Emissor Provincial da Rádio Moçambique de Inhambane. Fez um estágio na secção de cultura da RTP em Lisboa sob coordenação de Teresa Nicolau. Além de matérias jornalísticas, tem assinado crónicas, crítica literária, alguma dispersa de cinema e música. Escreve contos. Foi Gestor de Comunicação da Fundação Fernando Leite Couto. E actualmente, é Gestor Cultural do Centro Cultural Moçambicano-Alemão

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