Kugoma leva cinema às criança

Cultivar nos mais novos o gosto pelo cinema é um dos objectivos do Kugoma Escolas, programa que faz parte do Fórum de Curta-metragem Kugoma, que contempla, entre outra actividades, a projecção de filmes, debates e um cine-concerto.

Mas voltemos aos petizes. O Kugoma Escolas é uma acção voltada aos menores e vai abranger três escolas secundárias, nomeadamente, Polana, Estrela Vermelha e Francisco Manyanga. Os mais novos terão a oportunidade de assistir e saber mais sobre a sétima arte.

Segundo António Machaieie, da organização do evento, são esperadas 120 crianças de cada escola, totalizando 360. “Tudo está pronto para a realização do Kugoma Escolas. Esperamos a participação dos pequenos nas exibições dos filmes”, disse a fonte.

Além da projecção das películas, os mais novos terão a oportunidade de conversar com alguns dos cineastas que realizaram os filmes.

Exaltação dos filmes nacionais

Diana Manhiça, a coordenadora do Fórum de Curta-metragem, contou que a iniciativa Kugoma Escolas foi interrompida nos últimos dois anos. “Regressamos este ano graças aos apoios de parceiros como a União Europeia e o Conselho Municipal da Cidade de Maputo”, detalha, acrescentando que a intenção é que o programa alcance mais escolas. “No entanto, precisamos de mais condições logísticas para a materialização da acção”.

A coordenadora da iniciativa referiu que os filmes projectados para os menores são nacionais ou pelo menos contam com a intervenção de moçambicanos na sua produção.

Foram seleccionados três películas que participaram do terceiro concurso de curta-metragens organizado pelo Centro Cultural Moçambicano-Alemão.

Da lista de filmes consta “Não Dês Ouvidos a Ninguém: Todo Mundo Está Com Medo!”, de Wildford Machili. Na curta-metragem o realizador narra uma história sobre as inseguranças que temos em nós, baseadas naquilo que julgamos capazes ou não de realizar.

Na opinião do realizador, “os seres humanos tem uma voz que precisa falar, ser ouvida, e sobrepor as incertezas que nos impedem de seguirmos confiantes para o sucesso”.

Segundo Antonio Machaie, Wildford Machili é um dos autores que estará presente nas projecções para conversar com os mais novos.

Outro filme a ser projectado é “A Voz de Um Pincel”, do jovem realizador Douglas Condzo. A curta-metragem traz uma reflexão sobre as implicações negativas relacionadas às comunidades que vivem no ferro-velho.

“Armando, de 20 anos, é um jovem tímido, educado, inteligente e pobre. A pintura é a sua paixão. Ele frequenta a escola de artes da cidade de Maputo. O pai de Armando morreu, por isso vive com a mãe, numa humilde residência no bairro de Hulene, num ferro-velho”, lê-se na sinopse.

Na trama, Santos, irmão do falecido pai de Armando, levou o sobrinho do bairro acidentado do ferro-velho para sua casa na cidade. A ideia de Santos é aproximar o sobrinho da escola e afastá-lo das más companhias. No entanto, o jovem artista plástico sente falta da sua mãe e da sua casa.

“Quando o modernismo conhece o tradicionalismo e este não se encontra em sua base firme, o objectivo e o foco pode mudar repentinamente”, lê-se na sinopse.

Para finalizar a exibição das películas do concurso de curta-metragem é exibido o filme “O moderno”, de Ivan Simone e Sousa Domingos. O filme faz uma análise aos tempos actuais com uma doze de crítica e lucidez.

Um olhar criativo para as crianças

No Kugoma Escolas são, também, apresentados dois filmes produzidos nas oficinas de cinema do projecto “Xibaquela”, uma iniciativa do Olhar Artístico e Instituto Nacional das Indústrias Culturais Criativas, em parceria com a Chitará Sound e Associação Moçambicana de Cineastas (AMOCINE).

Os filmes a serem exibidos no Kugoma Escolas foram produzidos por alunos das escolas secundárias Josina Machel e Francisco Manyanga, neste ano.

O primeiro filme é “Os biscoitos”, de Edmilson Senete. A curta metragem versa sobre a problemática das drogas nas escolas. O segundo filme é “A vítima”, de Aissa Chemane, que retrata os assédios e a violação sexual que alguns menores são vítimas.

Filmes sobre problemas sociais

Na iniciativa será ainda exibido o filme “À espera”, de Sónia André e Novaldo Vasconcelos. O documentário retrata a problemática dos casamentos prematuros.

“Imagina sua filha, irmã, vizinha, sobrinha, neta, conhecida… imagina uma criança com menos de 15 anos sendo obrigada a casar com um homem de 50 anos. Imaginou? Pois é.. isso é a realidade de Moçambique”, lê-se num dos apontamentos sobre o filme.

Para Sónia André “o casamento prematuro enfraquece as meninas, fecha as suas oportunidades de desenvolvimento , tem uma ligação directa com a gravidez precoce e seus riscos associados e faz com que as meninas abandonem a escola”.

Para terminar a lista dos filmes, que serão projectados, está “Pele de Luz”, um documentário de 19 minutos, que mostra a rotina de duas irmãs albinas no centro de Maputo. O filme ganhou um prémio no festival de documentários em Portugal e já foi exibido no Brasil.

“Pele branca e magia negra cruzam-se com religião, educação e família – os pilares em que se baseia a história contada pelo realizador português André Guiomar”, refere uma crítica ao filme que conta com a co-produção da Promarte (Moçambique) e Real Ficção (Portugal).

O Kugoma Escolas é uma das actividades do Fórum de Curta Metragem, que neste ano celebra os seus 10 anos de existência.

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