Talvez em Buenos Aires

(A livraria Luar, no Marés, fechou. A Mabuko ficou com apenas uma, na Julius Nyerere, a Conhecimento igualmente queixa-se.)

O livro nunca foi de acesso fácil, nem aqui nem lá. A ignorância pode gabar-se dessa vitória. E os egoístas, que guardam o poder para si, nalguns casos, o conhecimento ao lado, vão juntos à baila.

Matar as livrarias, já poucas, é sem dúvida razão para banquetes de grande regalo para quem da estupidez se beneficia. É o que vemos em Maputo, para não falar do resto do país.

A intelectualidade vai, tristemente, confinando-se nas barracas do Museu, nas bibliotecas, já poucas e pobres, no centro da cidade e algures, na catedral do “Camões” e de outros génios europeus instalados no centro, verdadeiramente metropolitano. Ou ainda, muitas vezes pouco fundamentadas, em grupos de whatsapp e no Facebook.

O conhecimento, esse respeitoso senhor, vai-se, gradualmente, tornando aprisionado por uns poucos, privilegiados e teimosos, diga-se.

Construir uma cidade sem livrarias é o primeiro passo para, de facto, embrutecê-la. Quem ganha com isso? Sabe-se lá!

É um facto que a crise habita em nossos bolsos, o que se reflecte no oco das nossas geleiras e quadros de credelec, mas isso não é pior, de certeza, que fechar o ginásio do músculo mais forte que temos, o cérebro.

A história, a seguirmos este rumo, vai condenar-nos por, de braços cruzados, termos assistido a esta situação. Se bem que, ao que parece, o imediato e instantâneo dita o estado das coisas. É a tal sociedade que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925 – 2017) descreveu como líquida.

No mesmo diapasão, em termos lógicos, de alguma forma, Mário Pedro Vargas Llosa, (n. 1936), escritor peruano, denuncia-a em Civilização do Espectáculo.

Não obstante, optimista, ou idealista, que uns e outros, com a sua razão condenam, à luz do realismo, nos parece que o fundo do túnel ainda é “chegável”.

Matar as livrarias, patrocinar o vazio, meus caros, é, de certeza, a pior forma de construir um legado para o futuro. O espantoso, para não dizer paradoxal ou irónico, é que a palavra desenvolvimento está-nos na ponta dos lábios. O que é desenvolvimento? São carros, cerveja, finais de semana em Nelspruit? Ham? E as livrarias, quê? Nada!

Enquanto as respostas não aparecem, como ainda não apareceram, ainda que falhas, ao questionamento do Ngoenha sobre o momento moçambicano, vou tentar mudar-me para Buenos Aires.

lEONEL2

Acredito que pequenos gestos podem mudar o mundo. Encontrei no Jornalismo a possibilidade de reproduzir histórias inspiradoras. Passei pela rádio, prestei assessoria de imprensa a artistas e iniciativas. Colaborei em diversas página culturais do país. Actualmente sou repórter do jornal Notícias. A escrita é a minha arma”.

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