Carlos e Zaida Hlongo- Um furacao que fustigou o pais por 10 anos (1)

De 1993 até 2003 o país parou para, seguindo esta sequência, escandalizar-se, dançar, cantar, comentar e render-se a uma combinação de talento, mestria e ousadia de um casal que sem querer marcar a diferença, acabou revolucionando o que seria a postura da mulher em palco.

Zaida rompeu um mundo formatado em tabus, que mesmo com tentativas moderadas de Mingas e Elsa Mangue, teimavam em resistir. Foi preciso que uma Changana de Chongoene, da família Mucavele, aparecesse em palco, para dançar o hitA Wasanti” de Carlos Hlongo.

Das três bailarinas, havia uma gordinha, rosto sem bases que disfarçam as rugas nas titias de hoje, sem maquilhagens e sem preparo, mas que mexia o corpo com mestria, não se poupava e sabia para onde ia.

Naquela banda, no suplicio de Carlos contra as mulheres que pela ingratidão retribuem todo um esforço dos maridos só porque tem um amante que lhe dará uma felicidade efémera, aquela menina mostrava que não estava ali para acompanhar a actuação da banda.

A dado momento, a banda estava ali para acompanhar a bailarina. Depois do espectáculo, as pessoas comentam a execução da banda Carlos Hlongo, rendem-se a fusão rítmica que o homem traz, depois de alguns anos na África de Sul, ele “txaia” o que muitos chamam de “ximadji madji”, uma mistura de marrabenta, makwaya e vuthu, estilo característico de Gazankulu. Também conhecemos no som acústico da primeira versão de “timpondo”, a influência que o mestre exerceu na personalidade musical de Hlongo.

Desaparecidos esses comentários, se segue sempre uma pergunta: Mas vocês viram aquela bailarina? A “xiti feleli pa” – ela não se poupa.

Sim, ela dançava como se fosse a última oportunidade da sua vida. Ver ou ouvir o Carlos Hlongo era fácil. O homem tinha emigrado para África de Sul, deixando a banda a sua sorte. Foi nesse período que para se refazem da ausência do líder e trabalharam com as bailarinas.

Em 1992, numa finalíssima do Ngoma Moçambique (maior parada da música nacional, organizada pela Rádio Moçambique), realizada no Cine África, com um acompanhamento da banda, de muitos anos “playbecckando”, Carlos foi cantar “kassi niyo yini” (que fiz), um tema que também foi conhecido por “mabarrakeni”, numa alusão a personagem feminina que perde noites nas barracas.

A menina Zaida mostrava os seus dotes de dançarina, porque sabia que estava reservado um lugar para ela, na história da música popular moçambicana. Sabia que a história dela seria escrita entre 2003 e 2004.

Continua

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