MC Roger é uma instituição cultural

Por Inocêncio Albino

Qual é o problema de se assumir ao MC Roger como instituição cultural moçambicana?
É simples, nós os moçambicanos passamos a vida a discutir a pessoa da pessoa e não a obra da pessoa. Logo, não conseguimos enxergar o mérito contido na obra.ffaa99895bbf4274d81a9e285826d1100bae6156

Passamos a vida a vilipendiar a alteridade em função das falhas cometidas pela pessoa dessas pessoas e tão pouco nos concentramos na intenção contida na ação que, cedendo à imperfeição humana, redundou em fracasso. Consequentemente, deixamos de enxergar o que ele fez – como se não tivesse feito algo.

 

Por causa desse espírito que resultando de uma prática reiterada e, quase sempre, impensada da nossa parte, MC Roger acabou por se tornar um dos poucos moçambicanos cujas falhas, quais lugares-comuns, são expostas e exaltadas – na esfera pública – com a única intenção de desmoralizar à pessoa da pessoa do artista.

 

Hoje, a Imprensa Amarela Moçambicana, praticada por miúdos cujas idades nem beiram aos anos de carreira do MC Roger, está empenhada em expor esta nobre figura reduzindo-a ao ridículo em função daquilo que disse mesmo sem querer. Suas falhas! Então, vamos entender um aspeto relevante nessa discussão:
MC Roger é dos poucos moçambicanos cujos erros são um lugar-cum para todos nós, mas isso não deve apagar o muito importante facto de que MC Roger é também dos poucos moçambicanos cujas falhas resultam da pura intenção de exaltar e salvaguardar os valores patrióticos da moçambicanidade. Portanto, há nisso, como uma caraterística própria do MC, um valor a preservar: o Patriotismo. Os fazedores da Imprensa Amarela conhecem o significado disso?

                                Alguns do álbuns de Mc Roger

O MC é dos poucos artistas que sabe perfeitamente que as personagens das suas músicas – muitas das quais são figuras relevantes na história moçambicana, africana e mundial, já que fazemos parte do mundo – cometeram erros. Ainda assim, tem a grande virtude de exaltar os seus grandes feitos.

 

Reconhecer o sucesso de alguém nem sempre significa bajular, antes pelo contrário, significa encorajar a essa pessoa para se manter firme no caminho da proeza. É, portanto, uma forma de crítica muito sofisticada – para a qual poucos de nós estão preparados. Por exemplo, esse texto é uma construção e muito pouca gente sabe a engenhoca que a sua tecedura custou. Para essas pessoas, especializadas na detração, é fácil destruir esse pensamento invocando forças atávicas que se fundamentam no preconceito resultante da falta de conhecimento e da vontade de entender o implícito, o contido no dito mas não declarado e, enfim, o que está nas entrelinhas.

Quem quiser entender a gradeza do MC Roger, certamente, irá se dar tempo para escutar as músicas em que ele fala sobre parte importante dos Presidentes da República de Moçambique. Nela está impregnada a narrativa moçambicana. A narrativa cantada por MC é um elemento relevante para se entender a cultura dos moçambicanos – um dos seus principais temas.

Não dá para ignorar que MC Roger é uma espécie de alicerce da carreira de muitos jovens músicos cujos talentos se revelaram entre os finais dos anos ’90 e inícios dos anos 2000.

 

O MC é, provavelmente, o nacionalista-músico moçambicano altamente autodeclarado que expõe a moçambicanidade acima de tudo nas suas intervenções públicas. Ele é dos poucos artistas moçambicanos que, quando a banda angolana SSP entrou em cena, na música africana, exaltando a angolanidade, conseguiu se impor – junto de Mr. Arsen – com o seu hit african lover man contribuindo, à sua maneira e sempre original, para que muitos jovens e adolescentes, na época, gostando ou não da música angolana, pudessem dizer – em alta e viva voz – que em Moçambique temos o MC Roger que hasteia a nossa bandeira cultural.

 

Bem ou mal, o MC Roger fez. Ele fez e continua fazendo. Não haja dúvidas! Ele é o único artista que fez a todos os moçambicanos, do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico, dançarem Zaka Za e sentirem-se incluídos nesta utopia que se chama Moçambique. Alguém tem ideia do que isso significa? Alguém tem ideia de onde o nome MC Roger consegue penetrar e chegar neste grande Moçambique?

 

MC Roger é o único músico moçambicano cujo sapato vale a pena escovar (estou a falar de escovar literalmente), por uma simples razão: é sempre novo e limpo. Aliás, sobre o fato, quando tal montante valia alguma coisa, recordo-me do MC a oferecer mil meticais a um fã cujo sonho era limpar o sapato do Patrão da música moçambicana.

 

No acto, MC foi verdadeiro. Eu não vi naquela oferenda algum interesse farisaico da sua parte. Ainda assim, é possível que haja quem não tenha gostado. Invejosos são muitos – e MC combate aos invejosos.

 

A verdade é que MC Roger é verdadeiro, por isso comete erros. Dos poucos músicos que tem na centralidade da sua agenda explorar a beleza de Moçambique e expor para todo o mundo ver. MC Roger é Moçambique. Por ele devíamos seguramente, em prejuízo consciente de todas as falhas cometidas e das ainda serão cometidas nesse percurso, afirmar que a história de MC se confunde com a narrativa da música jovem moçambicana. E começar essa narrativa a partir do MC.

 

MC é dos poucos músicos moçambicanos que, a meio a uma crise quase completa em que estamos submersos, consegue exaltar o nome de Moçambique e os seus valores sem hesitar. A situação do MC é muito mais complexa porque não fazendo Marrabenta, por exemplo, teima em inspirar a outros artistas e a sociedade no geral a utilizar a Marrabenta como o meio favorável para ensinar as novas gerações a gostar do que é de Moçambique. No seu dizer, muito sábio, a Marrabenta representa o que é nosso.

 

Por tudo isso, lamento que uma certa Imprensa, em sede de distração sucumbindo à falta de pauta, não tenha captado a notícia contida nas palavras confusas da declaração do MC. Para mim, o que se devia noticiar não é a declaração segundo a qual Moçambique celebra, em 2017, 24 anos de independência. A essa confusão até uma criança em instrução elementar consegue perceber e aclarar. Os fazedores da Imprensa Amarela deviam mais era investigar Moçambique aos 24 anos da independência. E MC Roger, qual grande patriota, é uma excelente fonte para essa informação.

 

Se MC Roger não respondeu a essas provocações é por muita educação da sua parte. Ele reúne condições para, com toda firmeza, dizer a todos esses miúdos metidos a jornalistas o seguinte: “Há 24 anos, a sua mãe era virgem e eu já era um grade entertainer sério em Moçambique. Me respeite”.

 

MC Roger é o único músico cujo sapato vale a pena limpar: respeitem-no!

 
 

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